Morales é visto como um dos últimos representantes da guinada à esquerda que caracterizou boa parte da América Latina ao longo dos últimos anos, tendo mantido uma boa relação com os governos do PT no Brasil. O mandatário boliviano também foi um dos maiores críticos da chegada de Temer ao poder, resultado de um processo que, segundo ele, poderia ser descrito como um golpe contra a presidenta eleita Dilma Rousseff. No entanto, de acordo com o atual presidente brasileiro, as relações entre Brasil e Bolívia vêm evoluindo de maneira positiva, com base no diálogo e no respeito mútuo.
Muito produtiva a visita do presidente @evoespueblo. Foram assinados acordos que fortalecem nossa cooperação nas áreas do combate ao crime organizado e da integração física. O Brasil seguirá trabalhando com a Bolívia, em favor do bem-estar de nossos povos. pic.twitter.com/AUe7mbdE6L
— Michel Temer (@MichelTemer) 5 de dezembro de 2017
Para o professor Daniel Chaves, da Universidade Federal do Amapá (Unifap), apesar das divergências entre os dois líderes sul-americanos, a estabilidade política do continente deve ser a grande pauta de qualquer governante da região. Segundo ele, é evidente que a América do Sul está passando ultimamente por um momento de instabilidade, mas países como Brasil e Bolívia possuem interesses práticos que vão além de diferenças políticas entre os seus representantes.
De janeiro a outubro, o Brasil comprou US$ 1,1 bilhão em gás da Bolívia, o que representa 96% de todos os produtos com origem no país vizinho. Ao mesmo tempo, foram exportados US$ 1,36 bilhão em produtos brasileiros para a Bolívia, segundo informou o Planalto.
(AI) Governos brasileiro e boliviano assinam acordos nas áreas de segurança e transportes, durante cerimônia no @planalto. Atos buscam aumentar policiamento nas fronteiras e melhorar a infraestrutura que atende os dois países: https://t.co/noyl9AP9LG pic.twitter.com/22BHPVUMAo
— Michel Temer (@MichelTemer) 5 de dezembro de 2017
No caso da ferrovia, os dois países assinaram hoje um memorando de entendimento, "tendo em vista que o fortalecimento de uma conexão ferroviária na região de fronteira entre os dois países permitirá reduzir o impacto da mediterraneidade sobre a economia boliviana, incrementar as relações comerciais e econômicas bilaterais, dinamizar a atividade econômica por meio de novos investimentos e aprofundar a integração sul-americana", conforme indica o próprio documento. Apesar da necessidade dessa integração, o que chama a atenção nesse projeto, de acordo com o professor Daniel Chaves, é que ele não deverá ser liderado pelos países da própria região.
"Hoje, nós não temos a condição prática, que o Brasil poderia ter, de liderar esse processo regional, como em alguns dados momentos chegou a almejar liderar", opinou ele. "Essa iniciativa de integração viária é fundamental. O dado novo nesse cenário é que, possivelmente, ela vai ter de contar com o apoio financeiro e político de uma potência extrarregional", comentou Chaves.