'Ninguém em sã consciência acredita na intervenção da Rússia na questão catalã'

© AP Photo / Emilio Morenatti Ato em Barcelona pela independência da Catalunha
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Acusações infundadas sobre uma suposta intervenção da Rússia a favor do processo independentista catalão não passam de "uma fantasia absoluta" para distrair atenção do debate sobre o tema, afirmou à Sputnik Mundo Jordi Creus, historiador e editor catalão.

De acordo com Creus, essa ideia, disseminada pela mídia em conformidade com a postura do governo espanhol, é "mais uma forma" da administração de Mariano Rajoy de "encarecer" comícios convocados por Madri depois da aplicação do artigo 155 da Constituição, que permite impedir autonomias territoriais.

"Dizer que a Rússia está influenciando nestas eleições para favorecer o desgoverno da Espanha me parece uma fantasia absoluta. Ninguém em sã consciência acredita na intervenção da Rússia na questão catalã. Mais importante do que essas coisas é que a vice-presidente do Governo, Soraya Sáenz de Santamaría, apresentou-se perante imprensa dizendo Mariano Rajoy trancou na prisão os dirigentes independentistas", declarou Creus.

Tais afirmações são, na opinião do historiador, uma demonstração de que "a separação de poderes é uma quimera, não existe". Para desviar uma possível crítica a esta situação, surgem "fabulações sobre se Vladimir Putin ou Nicolás Maduro influenciam na campanha".

Eleições em "máxima tensão"

O cientista político David Minoves considerou em diálogo com Sputnik Mundo que as eleições do dia 21 de dezembro, (21D), vivem "um clima de excepcionalidade que não corresponde a uma normalidade democrática". De acordo com a visão do especialista, foram decididas através de uma interpretação "ilegítima" do polêmico artigo 155 da Constituição espanhola.

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O mecanismo foi aprovado pelo Senado espanhol em 27 de outubro e habilitou o governo central a afastar de seus cargos os membros da Generalidade da Catalunha, bem como convocar eleições, depois de 1º de outubro, dia em que foi realizado referendo sobre a independência.

De acordo com Minoves, presidente do Centro Internacional Escarré para as Minorias Étnicas e Nacionais (Ciemen), a intervenção de Madri provocou "uma situação totalmente antidemocrática", como a acusação de rebelião que levou a prisão dos dirigentes catalães, uma parte dos quais está exilada e outra na prisão.

"Alguns são candidatos e essas pessoas não podem exercer seus direitos civis e políticos e não podem participar normalmente e em igualdade na campanha eleitoral, gerando uma situação de desequilíbrio e falta de garantias democráticas", considerou o presidente do Ciemen.

Além da suposta situação de desequilíbrio, a realidade nas urnas se mostra favorável ao "soberanismo" (concepção de identidade nacional com menos carga ideológica).

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"De acordo com analistas e pesquisas, certamente vai se conquistar a maioria ‘soberanista', mas é verdade que se fortaleceu a mobilização unionista favorável às teses do governo espanhol e, portanto, vamos a uma tensão máxima com altíssima participação. Mas a maioria das pesquisas e tendências revela mantimento da maioria independentista em assentos", disse o cientista político.

Maioria "soberanista", apesar da mídia

Jordi Creus considerou que "há candidatos aos quais se coloca um tapete vermelho para que passem e outros que não podem participar".

Minoves opinou que os meios hegemônicos de comunicação de alcance nacional pretendem criar uma estratégia de "voto do medo para tentar deslocar parte do voto abstencionista movida entre partidos para fortalecer" o Partido Cidadãos e partidos aliados. No entanto, o Partido Popular ocupa ultima colocação entre favoritos, de acordo com as pesquisas.

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O impacto dessas estratégias tem sido reduzido, de acordo com Minoves, porque a maioria se informa através das redes sociais, mídias digitais e outros mecanismos alternativos.

O que acontecerá se o "soberanismo" ganhar?

A plataforma eleitoral dos partidos socialistas está centrada na "suspensão do artigo 155", na "recuperação das instituições democráticas" e no "pedido de liberdade para os presos políticos e que os membros do governo [catalão], que estão exilados, possam voltar", informou Minoves.

"Está nas mãos do próprio governo espanhol de poder torná-las efetivas, portanto, não são processos que dependem apenas de uma maioria parlamentar", considerou o analista, acrescentando que se vencerem os "soberanistas", eles procurarão uma forma de pôr em prática o processo de independência, de acordo com o resultado do referendo de 1º de outubro.

A discussão é como se pode avançar neste processo, se Generalidade continuar operando. "A margem de manobra é uma dúvida de toda a sociedade catalã. Embora tenham a vontade e expressam-na em campanha há que ver qual capacidade eles têm para execução", resumiu o especialista.

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