Por mais estranho que pareça, EUA se tornam país pária na ONU

© REUTERS / Eduardo MunozA sede da Assembleia Geral da ONU, no bairro de Manhattan, em Nova York
A sede da Assembleia Geral da ONU, no bairro de Manhattan, em Nova York - Sputnik Brasil
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A votação na Assembleia Geral da ONU sobre o reconhecimento por Washington de Jerusalém como a capital israelense mostrou que os EUA quase não têm aliados no que se trata do problema palestino, pois 128 países-membros de 193 condenaram o ato.

Entre estes estão aliados da administração de Trump no bloco da OTAN, como a França e o Reino Unido, bem como todos os 57 Estados que integram a Organização para a Cooperação Islâmica. Washington está indignado com o fato de muitos destes países receberem ajuda financeira americana. O presidente Donald Trump está ameaçando parar de concedê-la, embora seja pouco provável que o faça, porque tal decisão faria colapsar todo o sistema de laços estadunidenses no Oriente Médio. 

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As estatísticas evidenciam que a maioria de votações na Assembleia Geral da ONU não termina da forma que a Casa Branca queria. Pelos índices de 2016, a postura dos EUA e dos outros países-membros coincidiu em apenas 37% dos casos. Isso é explicável, pois a Assembleia Geral examina as resoluções que não têm chances no Conselho de Segurança, onde Washington tem poder de veto. Para a diplomacia americana o resultado acaba sendo pouco convincente.

Em especial, isso se refere às votações sobre o problema palestino, quando contra os EUA se manifesta todo o mundo islâmico. No decorrer do ano corrente, a Assembleia Geral da ONU aprovou 21 resoluções sobre o processo de paz na Terra Santa, sendo que nenhuma delas refletia o ponto de vista de Washington. As autoridades estadunidenses, por sua vez, já deixam claro que sua paciência está se esgotando.

"Vamos recordar esse dia, escolhido para atacar o nosso próprio direito de atuar como Estado soberano. Vamos recordar [esta votação] quando nos pedirem de novo para pagarmos nossa contribuição, a maior de todas, ao orçamento da ONU, quando muitos países do mundo vierem nos pedir para pagarmos e usarmos de nossa influência em vantagem deles", afirmou a representante oficial dos EUA junto às Nações Unidas, Nikki Haley.

O líder dos EUA, Donald Trump, fez uma declaração ainda mais mordaz, não descartando a oportunidade de que o seu país economize na ajuda financeira aos países que votam contra Washington na ONU.

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A escalada nas relações com as organizações internacionais bem pode virar uma das tendências da política americana para os próximos anos. Neste outono, os EUA já saíram da UNESCO, acusando esta instituição de ser parcial em relação a Israel.

'EUA estão furiosos e lançam ameaças' 

No mundo árabe, os recipientes da ajuda financeira por parte dos EUA são países cuja política nem sempre agrada a Washington. Entre eles está o Iraque, o Egito e a Turquia. Em uma entrevista à Sputnik, a cientista política turca Oya Akgonenc Mugisuddin, contou que a Casa Branca está apenas procurando um pretexto para diminuir os volumes de ajuda aos países do Oriente Médio.

"Claro que decidir se prestam ajuda unilateral a alguns países cabe completamente aos EUA. Entretanto, dá para reparar que Trump está aproveitando esta votação como pretexto para parar de prestar assistência aos outros Estados. De fato, os EUA ameaçam abertamente os outros países com a força financeira, pois eles estão furiosos com a situação criada", afirmou o cientista político.

Ademais, Washington também está irritada com a política do Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que está elaborando uma lista negra de empresas americanas que cooperam com Tel Aviv. O Departamento de Estado considera que as atividades anti-israelenses não podem ser financiadas pelos contribuintes norte-americanos.

Sob pressão dos evangelistas

No contesto de uma crítica unânime à política norte-americana por parte da Assembleia Geral, muitos observadores se perguntam por que é que os EUA escolheram deliberadamente se isolarem em um assunto internacional tão sensível. Uma das explicações pode ser a pressão dos eleitores conservadores sobre o presidente. A queda de seu ranking faz com que o líder estadunidense tenha de provar aos seus simpatizantes que está disposto a cumprir suas promessas pré-eleitorais, entre as quais está o reconhecimento de Jerusalém como a capital israelense.

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Em apoio a esta decisão se manifestam os evangelistas americanos de direita, cuja atitude para com Trump continua ambígua: muitos deles se indignam com o estilo de vida do presidente. Para não perder estes eleitores, o presidente dos EUA está obrigado a seguir escrupulosamente a agenda já anunciada em relação ao Oriente Médio.

Em uma conversa com a Sputnik, o cientista político e vice-diretor do Centro de Tecnologias Políticas, Aleksei Makarkin, afirmou que Washington, neste caso, não visa solidificar a opinião pública internacional em torno de si, mas está focado nos problemas internos. Entretanto, há ainda mais um aspecto externo que se deve tomar em conta.

"Nos últimos anos, começou uma aproximação não declarada da Arábia Saudita com Israel. Claro que Riad condenou a decisão de transferir a embaixada, mas esta indignação, de fato, fica apenas nas palavras. Deste modo, embora não seja formal, Washington adquire um aliado no mundo islâmico nesse respeito", resumiu.

De acordo com Makarkin, a unanimidade dos países-membros da Assembleia Geral se define em muito pela tradição sólida dos votos pró-palestinos que começaram ainda na década de 70.

"No entanto, nenhum deles trouxe qualquer vantagem política séria às autoridades da autonomia", observou.

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