Embora, nas palavras, os EUA estejam apoiando o processo de paz, de fato estão pouco interessados nele.
Os esportistas do Sul e do Norte podem desfilar em única coluna durante a abertura da Olimpíada. Ao menos, foi esta a proposta dos representantes de Seul que na terça-feira (9) chegaram a Panmunjeom, na zona desmilitarizada, para negociar com Pyongyang. A parte sul-coreana foi representada pelo ministro da Reunificação, Cho Myoung-gyon, e a norte-coreana – pelo presidente do Comitê para a Reunificação Pacífica, Ri Son Gwon.
O primeiro resultado foi a confirmação por Pyongyang da participação nos Jogos Olímpicos de uma delegação de alto nível, integrada por esportistas, bem como por jornalistas, artistas, espectadores, etc. Seul incluiu na agenda a discussão do problema da reunificação das famílias coreanas, a renovação do diálogo entre os militares e a cessação de quaisquer ações que aumentem as tenções nas relações bilaterais, bem como a desnuclearização da península coreana. Pyongyang não respondeu somente ao último ponto, tendo concordado em discutir os restantes.
A Coreia do Sul organizou Jogos Olímpicos pela última vez em 1988, nesse ano a Coreia do Norte não só boicotou o evento como também o tentou frustrar.
Foi o líder norte-coreano, Kim Jong-um, que lançou os alicerces deste encontro, declarando que "o Norte e o Sul não devem estar ligados pelo passado. É necessário melhorar as relações entre o Norte e o Sul e atingir progresso na reunificação".
Esta viragem brusca de Pyongyang na direção de uma solução pacífica com o seu vizinho é a resposta às mudanças na política de Seul, que começaram em maio de 2017 quando Moon Jae-in venceu as eleições presidenciais, acredita o diretor-geral do Conselho para Assuntos Internacionais, Andrei Kortunov. O novo presidente sul-coreano declarou logo o melhoramento das relações com a Coreia do Norte como sua prioridade.
Outro fator, segundo o especialista, foi a pressão muito forte exercida na Coreia do Sul por parte da China, que introduziu sanções econômicas.
Kortunov disse: "O volume comercial entre Pequim e Seul se reduziu significativamente, o fluxo de turistas chineses se esgotou. Tudo isso fez as autoridades acelerarem a adoção de uma nova política e a aplicação de medidas concretas – Seul limitou a sua participação em uma série de projetos conjuntos com os EUA, em particular, recusou a parceria trilateral com o Japão e os EUA".
Pouco depois, acrescenta, Pequim revogou algumas restrições e Kim anunciou estar pronto a lançar o diálogo com o Sul.
Desafiando a política dos EUA
A desescalada na península coreana não corresponde aos planos dos EUA, indica Anatoly Koshkin, professor no Instituto dos Países do Oriente.
"O aumento das tensões nesta região é motivo para os EUA aumentarem lá a sua presença militar, no plano estratégico contra a China e a Rússia. A détente cria obstáculos a isso", conclui.
Já é tarde demais?
Donald Trump, presidente norte-americano, optou pela política de força em relação à Coreia do Norte, que vai fracassar se o processo de paz der frutos. O efeito das sanções internacionais não será muito sensível se a cooperação econômica entre as Coreias for restabelecida.
Koshkin disse que, se os EUA continuarem a pressionar Seul, poderão frustrar o processo de paz e, aos olhos da comunidade internacional, serão vistos como agressores.
"O processo de desescalada das tenções é mais vantajoso para a China. Também será positivo para a Rússia, mesmo que não tanto. Quanto aos EUA, para eles já é tarde demais. Trump brandiu as armas durante muito tempo, ameaçava, enviava navios militares às costas da península coreana, mas não dava passos reais. Hoje em dia, os papéis se trocaram, e o agressor será aquele país que tentar criar obstáculos às iniciativas de paz", opina Koshkin.