Destruição do corredor
Ancara pretende começar as ações militares contra os curdos sírios em Afrin e Manbij, declarou o presidente turco Recep Tayyip Erdogan. "É hora de destruir definitivamente o projeto da organização separatista de criação do corredor terrorista na Síria". Talvez tenha em vista o "corredor curdo" que se estende ao longo da fronteira sírio-turca que, na opinião de Erdogan, vai desestabilizar os territórios curdos do lado turco, abastecendo-os com armas e outras coisas.
Sabe-se que os curdos sírios são favoritos dos EUA na Síria. Washington conta com ajuda deles para influenciar não só a vida política interna do país pós-guerra, mas também usá-los para exercer influência nos países vizinhos, em primeiro lugar, no Iraque, Turquia e Irã.
Os norte-americanos consideram o Curdistão Sírio como plataforma regional e já instalaram lá uma série de bases militares. Por isso, a questão síria também é importante para os EUA, levando em conta que a Turquia de Erdogan tem cada vez mais divergências com Washington. Por exemplo, a Turquia tem uma posição anti-israelense e aplica uma política independente tanto no Oriente Médio como na Europa.
Calem-se ou vão embora
Vale destacar que essas divergências podem ser utilizadas por Erdogan para retirada do "problema norte-americano". Quanto mais sérias se tornam essas divergências, menos razões o presidente turco tem para não agravar as relações bilaterais com os EUA.
Segundo a imprensa turca, os EUA tentam instalar tribos árabes na zona do Escudo do Eufrates (territórios conquistados pelos militantes sírios com ajuda de Ancara dos terroristas do Daesh – proibido na Rússia – no decorrer da operação com o mesmo nome) contra Ancara. Washington caracteriza os turcos como "força ocupante" e promete fornecer armas para a luta contra o exército turco.
Consecutivamente, aos olhos dos turcos, os norte-americanos estariam se evoluindo mais rapidamente de simples obstáculos aos inimigos.
Por isso, o especialista acredita que os EUA tenham apenas três opções: lutar contra a Turquia que é parceiro da OTAN, ficar calados nas bases militares ou observar Ancara "esmagando" os curdos.
Eu sou importante
As relações russo-turcas possuem detalhes um tanto complexos. Por causa do confronto com a Rússia, a Turquia corre risco de ser expulsa do processo sírio na melhor das opções, e na pior delas – ser isolada totalmente.
Em muitos aspectos, Ancara permanece na agenda internacional graças às relações construtivas com Moscou, podendo influenciar na agenda regional, bem como exercendo pressão na Europa e nos EUA.
O problema do líder turco é que tem poucos instrumentos para pressionar a Rússia. Mas a Turquia pode ajudar Moscou a resolver o problema dos ataques a instalações militares russas. Por exemplo, o acidente recente do ataque de drones à base aérea russa na Síria mostrou que os veículos aéreos decolaram do território controlado pelos militantes turcos.
Mas a carta turca mais forte é a recusa de reconhecer Bashar Assad como presidente sírio. Em troca da questão curda, Erdogan pode concordar em trabalhar com o presidente atual, o que é necessário para o processo de paz.
Rússia não é os EUA
Moscou poderia deixar Ancara resolver a questão curda, mas há vários obstáculos. Em primeiro lugar, a Rússia deu algumas garantias aos curdos.
Em segundo, os curdos já tentam consertar as relações com Moscou, por exemplo, pronunciam-se ativamente a favor da participação no processo de paz sírio. Os curdos já declararam estar prontos para integrar a sua milícia nas unidades armadas sírias em troca da autonomia moderada.
Em terceiro, seria lógico ter os curdos como trunfo de Moscou contra o parceiro turco imprevisível.
Além do mais, a questão curda só continuará dificultando relações entre EUA e Turquia.
Finalmente, para comprovar seu status de "solucionador", o Kremlin deve encontrar uma via diplomática do conflito no triângulo Damasco-Ancara-curdos, de que se ocupa atualmente a Rússia.