Mais cedo, uma fonte da Sputnik na indústria naval comunicou que até 2020 seriam reciclados dois submarinos da classe, Arkhangelsk e Severstal. O último dos "tubarões", o cruzador submarino Dmitry Donskoi, continuará participando das provas do míssil Bulava. Em um artigo especial para a Sputnik, o colunista Vadim Saranov conta por que estes navios marcantes se tornaram inúteis para a Marinha da Rússia.
Míssil demasiado pesado
"Os submarinos do projeto 941 têm um aspeto monstruoso e horrível, o próprio navio foi extremamente caro", disse à Sputnik o vice-chefe do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias, Konstantin Makienko.
"Por isso, mesmo a poderosa União Soviética conseguiu construir apenas 6 destes navios, embora inicialmente este fosse um desafio para responder com ‘tubarões' aos Ohio, dos quais os norte-americanos tinham construído quase 20 unidades. Mas isto não é culpa dos construtores navais — eles apenas criaram a plataforma para um sistema de mísseis. Eles construíram um navio adequado ao míssil que receberam", adiantou.
O projeto 941 Akula deve seu nascimento ao desejo das autoridades soviéticas de obter um míssil balístico de combustível sólido, escreve o colunista. Estes mísseis disfrutam de uma série de vantagens em relação aos de combustível líquido — preparação reduzida do pré-lançamento e segurança elevada. Ademais, os construtores soviéticos eram impulsionados pelos avanços dos norte-americanos, que iniciaram a construção dos mísseis de combustível sólido Trident C-4 e Trident II D-5.
A resposta soviética aos EUA foi o sistema de mísseis D-19 Taifun com o míssil R-39 Osetr, que entrou em serviço em 1983. Este míssil, que no total pesava 95 toneladas, é o mais pesado míssil de baseamento naval do mundo, sendo 3 vezes maior que um Trident C-4, por exemplo.
Por isso, explica o autor, para um míssil com um peso tão grande era preciso ter um portador de caraterísticas extraordinárias.
'Aguadeiros'
O Akula TK-208, que foi recebido pela Marinha em 1982, foi logo batizado de "aguadeiro", enquanto os financistas militares não estavam nada entusiasmados, pois os custos de manutenção de cada navio eram ao menos 2 vezes maiores que os dos outros porta-mísseis das classes Kalmar e Delfin.
Além disso, a infraestrutura dos "tubarões" também custou uma fortuna, dado que os mísseis de 90 toneladas eram fornecidos completamente montados e só podiam ser transportados por carris. Foi até construída uma ferrovia de 40 km para esse fim.
Outra estrutura dispendiosa criada para manutenção dos Akula foi a doca flutuante PD-50, construída em 1980 a pedido da Marinha da URSS e considerada uma das maiores até hoje.
Para a frente!
Porém, há quem acredite que as dimensões inéditas do Akula também tinham suas vantagens, escreve o autor. Por exemplo, ao subir à superfície nas zonas polares, o submarino poderia não buscar áreas desimpedidas, mas quebrar a camada do gelo com seu casco reforçado.
Mas na realidade tudo era um pouco diferente. Assim, na década de 90, o cruzador submarino TK-202 realizou mais de 10 tentativas de sair à superfície através de uma grossa couraça de gelo e nem todas foram bem-sucedidas.
Ademais, ao voltarem à base, os especialistas detectaram numerosos danos no casco leve e outros equipamentos do navio.
No total, os construtores navais russos entregaram à Marinha 6 cruzadores submarinos do projeto 941. Até hoje, só sobreviveram três, ou seja, TK-208 Dmitry Donskoi, TK-20 Severstal e TK-17 Arkhangelsk.
Decisão precipitada?
Anteriormente a mídia comunicou que todos estes navios poderiam ser adaptados ao míssil R-30 Bulava, sendo que os R-39 dos "tubarões" tinham sido reciclados em meados dos anos 2000. Ademais, foram apresentadas alternativas para uso dos submarinos Akula.
"Os norte-americanos têm uma experiência de uso dos navios Ohio como portadores de mísseis de cruzeiro de baseamento naval. Eu acredito que isso poderia ser feito também com o projeto 941", disse o especialista em assuntos militares russo, Konstantin Sivkov, à Sputnik. "Se em um Ohio cabem 150 mísseis Tomahawk, um Akula pode portar cerca de 250 mísseis de cruzeiro. Por isso eu considero como errada a decisão de desmantelar os submarinos de classe 941", adiantou.
"Arkhangelsk e Severstal poderiam ser reequipados para mísseis de cruzeiro, mas a utilidade desta decisão, dados os custos elevados, não é evidente. Temos bastantes plataformas para os mísseis de cruzeiro que são muito mais baratas e móveis", resumiu Konstantin Makienko.