Israel pretende começar a deportar os africanos no primeiro dia de abril. Alguns deles estão no país há anos e constituíram família.
Nas últimas semanas, um grupo de pilotos, médicos, escritores e ex-embaixadores pediram que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu suspendesse o plano de deportação, afirmando que a medida é antiética e causaria graves danos à imagem do país.
"A experiência do povo judeu ao longo das gerações aumenta essa obrigação", afirmou o Yad Vashem em comunicado. "As autoridades em Israel devem fazer todos os esforços para que não haja pessoa que tenha chegado a Israel com uma espada sobre o pescoço que não receba status de refugiado."
O governo, entretanto, não vê com bons olhos os pedidos. "Esta campanha é sem fundamento e absurda", disse Netanyahu. "Os verdadeiros refugiados e suas famílias permanecerão em Israel. Não temos a obrigação de permitir que migrantes trabalhistas ilegais que não sejam refugiados permaneçam aqui."
"Não é razoável que apenas em Israel eles sejam 'infiltrados' e em qualquer outro lugar do mundo eles sejam refugiados", disse Dror Sadot, do grupo de advocacia Hotline for Refugees and Migrants.
O fluxo migratório de africanos para Israel começou em 2005, após o Egito reprimir violentamente uma manifestação de refugiados sudaneses em que pelo menos 27 foram mortos. Após o episódio, Israel passou a ser visto como um lugar com segurança e oportunidade de empregos.
Cerca de 60 mil imigrantes atravessaram a fronteira do deserto de Porouso para chegar a Israel até uma barreira ser construída em 2012.
Existe, também, um centro de detenção em uma região deserta do sul de Israel que concentra um número não conhecido de africanos.
Ainda assim, milhares de imigrantes estão concentrados em bairros no sul de Tel Aviv, onde as lojas de alimentos étnicos e as bancas de cartões de telefone tomam as ruas e a área tornou-se conhecida como "Pequena África". Isso provocou tensão com os residentes judeus de classe trabalhadora que pressionaram o governo para encontrar uma solução.
O governo, dominado por partidos nacionalistas, defendeu a causa dos moradores. Após anos de atrasos, foi aprovada a deportação de 40 mil imigrantes, mesmo contra sua vontade, a um terceiro país africano cujo nome não foi divulgado.
O ministro da Justiça, Ayelet Shaked, disse que a grande maioria dos africanos em Israel são homens jovens que procuram trabalho, em vez de refugiados, e Israel tem o direito de ditar sua política de imigração.
"Israel não pode ser o escritório de desemprego da África", disse ela à rádio do exército israelense na terça-feira. "Eles não estão sendo enviados para a morte, eles vão trabalhar em outro lugar".
Os defensores dos africanos discordam. Eles dizem que o Ruanda não tem capacidade para recebê-los e que parte do fluxo está sendo absorvido por outros países africanos.
Defensores dos imigrantes africanos afirmam que eles estão sendo forçados para a Líbia — onde enfrentam tortura, escravidão e estupro na tentativa de cruzar o mar mediterrâneo e chegar na Europa.