Na lista especial dos serviços secretos estadunidenses figuravam também objetivos civis que poderiam lançar luz sobre os avanços econômicos e tecnológicos dos países concorrentes.
Na madrugada de hoje (1), a organização não comercial National Security Archive tornou públicos os textos de mais de 40 documentos dedicados a tais achados. Foi revelado que os agentes da CIA e do Pentágono vasculharam literalmente toda a Terra em busca de "evidências" e acabaram por recolher uma coleção de equipamentos e suas partes produzidos, em maioria dos casos, na União Soviética.
A coleção incluiu partes de foguetes e sondas espaciais que regressaram à Terra, equipamentos eletrônicos e medicamentos.
Números impressionantes
Para fins de inteligência, nos EUA foram criadas inúmeras subdivisões, inclusive o Sovmat, um grupo para estudos dos materiais sobre a URSS controlado pela CIA. Passado algum tempo (não se sabe quando precisamente), o grupo foi renomeado em Serviço para Objetos Estrangeiros. Entre os documentos se pode encontrar relatórios estatísticos do Sovmat que apresentam dados sobre o número de achados de valor estratégico.
Todos os meios são bons em tempos de guerra
As autoridades norte-americanas usavam toda uma série de métodos para obter informações interessantes sem poupar em meios financeiros.
Em meados da década de 60, quando a URSS estava testando os mísseis balísticos intercontinentais, os EUA enviaram à zona de provas navios com sensores para estabelecer as dimensões, configurações e parâmetros técnicos dos armamentos soviéticos. Os EUA alocaram US$ 11,3 milhões para a elaboração de um submersível de grande profundidade no âmbito do projeto SAND DOLLAR, com o fim de detectar ogivas ou destroços de ogivas para examiná-los depois.
Em 1967, os pesquisadores estadunidenses conseguiram uma oportunidade para estudar réplicas das sondas soviéticas Sputnik e Lunik. Por duas vezes os serviços secretos norte-americanos obtiveram acesso limitado à Lunik, e na segunda vez eles conseguiram "levar emprestado" o aparelho por uma noite e o devolver de madrugada, antes que os especialistas soviéticos reparassem no sumiço, lê-se no respectivo documento.
Entre os documentos há um relatório detalhado sobre a análise do estopim do míssil K-13, designado como Atoll nos EUA, e um relatório sobre a botija de gás de um satélite soviético detectado em Wisconsin.
"As manipulações deste fragmento da espaçonave soviética tiveram muitas dificuldades do ponto de vista da política internacional. A resolução da ONU de 1963 obriga a devolver os objetos espaciais estrangeiros ao governo do país de registro, enquanto o artigo 8 do Tratado do Espaço recentemente celebrado também exige sua devolução", diz o texto. Entretanto, a CIA nunca devolveu o seu achado a Moscou.
Volta ao mundo
Em agosto de 1951, os militares norte-americanos, com apoio por parte dos colegas britânicos e sul-coreanos, conseguiram montar quase completamente um caça soviético MiG-15 a partir de destroços no decorrer de duas operações de resgate. Os destroços, detectados perto da costa ocidental da Coreia do Norte, foram enviados ao centro Air Technical Intelligence Center, no estado de Ohio, para serem analisados.
Nos finais de 1966, as Forças Armadas do Gana entregaram aos EUA armamentos soviéticos de forças terrestres, enquanto um ano depois os norte-americanos já estavam negociando com os israelenses o acesso aos armamentos capturados pelo exército de Israel na sequência da Guerra dos Seis Dias.
Este projeto foi batizado de MEXPO. Primeiro, os especialistas estadunidenses ganharam acesso a exemplares de armamentos secundários que se encontravam no território israelense, e depois — a todos os restantes armamentos, inclusive os de grande prioridade, como os sistemas de mísseis antiaéreos S-75 Desna.
Aproximadamente ao mesmo tempo, os EUA decidiram "tentar a sorte" no Iêmen e se dirigiram às autoridades do país com o pedido para obter acesso a substâncias químicas militares soviéticas. Porém, não se sabe como terminou essa história.
Por isso, os funcionários de entidades governamentais discutiam os possíveis métodos de transporte dos fragmentos para os EUA, para estes serem depois escrupulosamente analisados. A lista termina com um relatório sobre armas portáteis que as forças israelenses tinham conseguido interceptar no Líbano e sobre as quais os EUA estavam travando as respectivas negociações com o Estado judeu.