Pausa teatral
O Departamento do Tesouro dos EUA, com a participação da Inteligência Nacional e do Departamento de Estado, está preparando um relatório para o Congresso como parte da Lei de Contenção de Adversários da América Através de Sanções (CAATSA, na sigla em inglês), que entrou em vigor em verão de 2017.
O desvio da atenção de Washington para a dívida nacional russa não é acidental, opina Naumov. Depois de as sanções dos EUA e seus aliados terem cortado o acesso ao financiamento externo de longo prazo para os bancos e empresas russas, os empréstimos intтфгernos e externos do Ministério das Finanças da Rússia servem como uma forma alternativa de atrair investimentos para a economia russa. O volume total de títulos públicos federais ascende atualmente a quase 6,7 trilhões de rublos (R$ 383 bilhões).
Velha história
Washington já tentou impor sanções aos títulos públicos russos. Em particular, em 2016, os EUA recomendaram aos bancos centrais ocidentais que não adquirissem euro-obrigações russas.
"A versão dura das novas medidas restritivas pode proibir que os títulos sejam comprados por não residentes, incluindo estruturas como BlackRock, Stone Harbor Investment Partners e JP Morgan Chase, que investiram em títulos russos cerca de 4,9 bilhões de dólares (R$ 16 bilhões)", disse Sergei Drozdov, analista da empresa de investimentos Finam.
Entretanto, outros especialistas apelam à calma e para não entrar em pânico, entre eles Konstantin Bushuev, chefe do departamento de análise de mercado da Otkrytie Broker. Segundo Bushuev, a probabilidade de uma proibição da compra da dívida pública da Rússia é extremamente pequena. Mas mesmo que essa decisão seja tomada, haverá outros compradores de títulos públicos federais.
Medida de resposta
Moscou reserva-se o direito de responder ao novo passo hostil de Washington como parte da guerra de sanções. É possível que, neste caso, a reação seja bastante dura, prevê Naumov.
O Banco Central da Rússia investiu 218 bilhões de dólares (R$ 702 bilhões) em títulos públicos de emissores estrangeiros. Aproximadamente metade – 105 bilhões de dólares (R$ 338 bilhões) – foram destinados a títulos do Tesouro dos EUA. O resto foi investido em títulos da França, Alemanha, Reino Unido e outros países.
É fácil mudar a geografia dos ativos estrangeiros. Se os EUA introduzirem uma proibição para a compra da dívida pública russa, Moscou poderia reduzir significativamente seus investimentos em títulos do governo, explicou Bushuev.
Além disso, seria um passo justificado também porque com o aumento da inflação e as taxas de juro nos EUA, bem como com a queda do valor do dólar, os títulos do Tesouro dos EUA não são rentáveis, revelou o especialista.
"Existem muitos instrumentos alternativos. Podem ser dívidas públicas das economias mais fortes da UE, bem como do Japão e da China", sublinhou o analista.
De fato, outra opção para as reservas cambiais da Rússia é ouro. O Banco Central aumentou suas compras no mercado interno. Desde janeiro de 2017, o valor deste metal precioso nas reservas da Rússia aumentou 27%, de 60,2 bilhões de dólares (R$ 194 bilhões) para 76,6 bilhões de dólares (R$ 247 bilhões).