Relatório bimestral, divulgado pelo Ministério do Planejamento, revela que os setores energético e extrativista continuam respondendo por 85% dos investimentos chineses no Brasil, envolvendo cerca de R$ 46 bilhões, a maior parte executada por empresas de capital público como a Wisco, China Three Gorges, Sinopec, State Grid, entre outras. O estudo mostra ainda que em quantidade de projetos o setor automobilístico se destaca. Companhias como a Chery, JAC Motors, Lifan e Effa investiram em 18 projetos, sendo três greenfield, duas fusões e aquisições e uma joint venture. Outros setores que também tem atraído a atenção chinesa são transporte aéreo, papel e celulose, fabricação de máquinas e equipamentos, serviços de tecnologia e obras de infra estrutura.
"Os Investimentos Externos Diretos precisam estar integrados dentro de um projeto nacional. Foi o que fez a China crescer. Me preocupa a falta de um projeto nacional no Brasil, a desnacionalização completa de nosso parque produtivo e falta de preocupação com a soberania nacional. Quando você tem um parque naval capaz de produzir plataformas e navios e opta deliberadamente por uma aquisição externa, isso é absolutamente inconsequente e não tem nenhum paralelo com qualquer experiência de desenvolvimento no mundo, onde as compras governamentais são instrumento da promoção da industrialização", afirma o especialista.
Pautasso diz que é não só um problema para o desenvolvimento tecnológico brasileiro, mas, em alguns casos, um problema de soberania nacional. Para ele, a tentativa de vender a Embraer é um crime de lesa pátria.
"Você não consegue imaginar o parque energético russo sendo controlado pelos americanos, nem o parque americano sendo controlado pelos chineses e nem o parque chinês sendo controlado pelos americanos. Isso é uma insanidade do ponto de vista das soberania e da estratégia de segurança energética e nacional. Jamais vai se entregar uma empresa estratégica como uma Embraer para a principal potência do continente, os Estados Unidos. Isso é uma falta de concepção do que é desenvolvimento e soberania em uma visão de médio e longo alcance", fiz o professor.
Pautasso observa que, depois de estarem envolvidos em escândalos de corrupção, como os revelados pela Operação Lava Jato, praticamente todas as grandes empreiteiras brasileiras enfrentam dificuldades financeiras pelo fato de estarem impedidas de participar da licitação de grandes projetos no país, o que abre uma janela de oportunidades para empresas e capital chinês que têm se aproveitado desse fato. A tendência agora, segundo o professor, é haver uma diversificação do portfólio.
"A China tem grande capacidade nos setores de energia e infraestrutura. Outros fatores que concorrem para esses investimentos é, de um lado, a grande demanda por recursos naturais (minérios e petróleo) e, de outro lado, no campo da infraestrutura, há a vontade de privatizar vários projetos no Brasil com o desmonte das grandes empreiteiras brasileiras após a Lava Jato", diz Pautasso.
Para o especialista em economia chinesa, há também um interesse estratégico, uma vez que o Brasil é grande plataforma para negócios na América do Sul. Segundo ele, investir nos setores automobilístico e de bens de consumo significa acessar toda a região do Mercosul e Unasul com vantagens tarifárias internas.