A análise é de Roberto Santana, professor de Políticas Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista diz que a suspensão de operações de sete companhias aéreas venezuelanas por 90 dias, renováveis, é mais um capítulo dessa estratégia, compartilhada também por muitos países da América Latina. As aéreas afetadas foram a Aeropostal Asas da Venezuela, Avior Airlines, Conviasa, Laser, Ravsa, Santa Bárbara Arlines e Turpial Airlines.
No final de março, o Panamá decretou sanções contra Maduro, 54 funcionários do governo e 16 empresas venezuelanas, "por alto risco em matéria de branqueamento de capitais, financiamento do terrorismo e de armas de destruição maciça". A resposta da Venezuela foi dada agora com o congelamento de contas de todas as empresas do Panamá "vinculadas às máfias representadas pelo governo de Juan Carlos Varela".
"Há uma ofensiva por parte dos EUA, utilizando alguns governos da América Latina, próximos ao governo norte-americano, em isolar a Venezuela. Isso parte principalmente de sanções econômicas e financeiras, dificultando o acesso ao crédito internacional e à negociação dos títulos da dívida venezuelana pelo mercado norte-americano. No âmbito regional, há uma ofensiva geopolítica de dificultar o máximo possível a vida na Venezuela", diz o professor da UERJ.
Santana lembra que o Panamá é um espaço importante na aviação, em especial para as viagens da América do Sul para América Central, Caribe e México, assim como o país também ocupa lugar de destaque como centro financeiro internacional. "O Panamá é um país tutelado pelos EUA, principalmente pela influência no Canal do Panamá. As sanções do Panamá têm que ser compreendidas no âmbito regional de ataque à Venezuela", diz o especialista.
Quanto às acusações do governo panamenho de que a Venezuela lava dinheiro, promove o terrorismo e financia armas de destruição maciça, o professor da UERJ afirma que o discurso faz parte de uma campanha midiática internacional, em especial na América Latina, de demonização do país. Santana afirma, porém, que nada disso se comprova. É, segundo ele, uma estratégia que visa ao petróleo e aos recursos naturais da Venezuela, e também uma forma de diminuir o prestígio que o país passou a ter na região após a assunção do presidente Hugo Chávez.
Com as sanções financeiras que o Panamá impõe à Venezuela, Santana não acredita que países do Caribe possam ser uma via alternativa para operações financeiras venezuelanas.
"Os países do Caribe que estão no bloco político com a Venezuela não são países que têm histórico de paraísos fiscais, como Barbudas, São Vicente Granadinas, República Dominicana, e, claro, Cuba e Nicarágua. Não são países que tenham um histórico como o Panamá tem ou como as Ilhas Cayman. É muito mais um resguardo geopolítico da Venezuela que consegue com essa articulação, desde os tempos de Hugo Chávez, embargar na OEA (Organização dos Estados Americanos) e em outros organismos de qualquer tentativa de uma intromissão mais violenta dos EUA na política interna venezuelana", finaliza Santana.