O ministério estava comentando o Relatório de 2017 sobre Adesão e Cumprimento dos Contratos e Compromissos de Controle de Armas, Não-Proliferação e Desarmamento, divulgado pelo Departamento de Estado dos EUA na semana passada. O relatório concluiu que os EUA estão em total conformidade com o Tratado do TNP.
"Todas as atividades dos EUA durante o período do relatório foram consistentes com as obrigações estabelecidas no TNP", afirmou o departamento.
Já Moscou argumenta que isso não poderia estar mais longe da verdade, já que os EUA não apenas continuam a realizar as chamadas "missões nucleares conjuntas" com os países europeus, mas, de acordo com seu próprio documento, também observam a expansão da prática.
"Tudo isso é uma violação direta dos Artigos I e II do Tratado", declara o ministério, referindo-se às disposições que proíbem expressamente as nações de "transferir a qualquer destinatário armas nucleares" ou entregar o controle sobre elas.
Itália, Holanda, Bélgica, Alemanha e Turquia atualmente abrigam cerca de 150 bombas B61 fabricadas nos EUA em seis bases, segundo dados citados pela Federação de Cientistas Americanos, que monitora as armas nucleares dos EUA. As armas, as mais antigas no arsenal nuclear dos EUA, devem ser substituídas pelas novas bombas modelo B61-12, que começam em 2020. O custo estimado do gigantesco projeto dobrou ao longo dos anos, para mais de US$ 10 bilhões.
A Rússia já havia alertado Washington de que o envio de novas bombas B61-12 a seus aliados na Europa seria contrário à obrigação dos EUA sob o TNP, mas não adiantaria.
Rússia rebate argumentos de Washington
Os planos dos EUA para atualizar e expandir seu já vasto arsenal nuclear foram delineados na vigorosa Revisão da Postura Nuclear (NPR) da administração do presidente dos EUA, Donald Trump. A revisão declara a necessidade de desenvolver novos tipos de ogivas de baixo rendimento que seriam colocadas em mísseis balísticos lançados por submarinos Trident D5 e em mísseis de cruzeiro nuclearmente lançados no mar.
Tal crescimento "nuclear sem precedentes", parcialmente justificado pela "ameaça da Rússia" e pelo comportamento "perturbador" de Moscou, "reduz significativamente o limiar do uso de armas nucleares", advertiu o Ministério de Relações Exteriores da Rússia.
Washington também lista um ataque convencional como uma razão válida para a retaliação nuclear. A provisão, que é a mudança fundamental da anterior estratégia nuclear dos EUA, permite que ela implante armas nucleares em resposta a um ataque que resulte em baixas em massa ou alvos de infraestrutura considerados chave.
"Contra esse pano de fundo, alegações completamente infundadas de uma crescente 'ameaça nuclear russa', vendida pelos americanos, parecem particularmente cínicas", afirma o Ministério das Relações Exteriores, ao rejeitar as alegações de que Moscou, por sua vez, está ponderando uma revisão geral de seus arsenais e políticas nucleares.
"As disposições de nossa doutrina militar sobre o uso de armas nucleares são deliberadamente distorcidas. O público ocidental está sendo constantemente informado de que a Rússia parece rever sua posição sobre o lugar e o papel das armas nucleares e se concentra cada vez mais nisso e não corresponde à realidade", explica a pasta.
A doutrina militar da Rússia, atualizada pela última vez em 2014, afirma que só usaria seu arsenal nuclear se estivesse sob ataque de armas de destruição em massa, incluindo armas nucleares, ou no caso de um ataque convencional quando a soberania da Rússia estivesse em jogo.
Logo após o lançamento da Postura Nuclear de Trump, o Ministério de Relações Exteriores da Rússia observou que, embora essencialmente permita que os políticos norte-americanos "tratem quase qualquer uso da força militar como uma razão para realizar um ataque nuclear contra aqueles considerados agressores", ao mesmo tempo, é uma "tentativa de questionar o direito [de Moscou] de autodefesa".
Apontando para a recusa dos EUA em ratificar o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT), que proíbe todas as explosões nucleares para propósitos civis e militares, o ministério disse que "desfere um duro golpe" no tratado, que " foi assinado e ratificado pela maioria dos países, incluindo a Rússia, "e pode ser parte de uma preparação para a renovação de testes nucleares pelos EUA.
"Tal política de Washington é contrária ao seu compromisso declarado com os objetivos da não-proliferação nuclear", disse o ministério, argumentando que outros países-chave do regime podem seguir sua liderança, o que pode levar a uma nova corrida armamentista.