Ele foi comandante das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e chefe do Estado-Maior da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Rodrigues, que é também antropólogo e consultor de Polícia e Segurança Pública, ressalta que, apesar da alta letalidade, é errado encarar a violência no Brasil como se houvesse uma guerra civil no país. O coronel da reserva avalia que não há um "componente ideológico" no conflito brasileiro como a tentativa de derrubar um governo.
"No mercado formal são disputas selvagens, mas elas são controladas porque o mercado é regulado pelo Estado. Quando você tem um mercado informal e ilícito, ele também é selvagem, ele quer se expandir e lucrar, mas trabalha na violência", disse Rodrigues em entrevista à Sputnik Brasil.
O ex-comandante das UPPs diz que a guerra às drogas — tentativa de acabar com a produção de drogas ilícitas por meio da violência — falhou: "A guerra às drogas, uma política que parte do proibicionismo, foi catastrófica. Ela não atingiu os resultados propostos quando foi iniciada e tem produzido mais violência".
Rodrigues diz que existe uma política "irracional" de "combate pelo combate". "Como se o crime organizado estivesse só na favela. Ele não está. O que está ali é o varejo, a ponta". Enquanto a violência acontece nas periferias, o coronel reformado ressalta que o "grande tráfico" fica "ileso".
"Boa parte das armas que matam, que estão envolvidas com essas 60 mil mortes aqui no Brasil, elas não vêm de fora. Elas são da indústria nacional. Nós temos uma indústria que é um dos maiores players mundiais na venda e exportação de armas. [Somos] o segundo maior exportador de armas médias e de pequeno porte do mundo, vendemos até para os Estados Unidos, isso as pessoas não sabem."
Rodrigues diz que para enfrentar a violência brasileira, são necessárias reformas na justiça criminal, sistema carcerário e nas polícias. Sem ferir "suscetibilidades econômicas e mercadológicas", não é possível alterar o quadro, diz o chefe do Estado Maior da PM carioca.