"Diante de um ambiente político e legal cada vez mais repressivo na Hungria, a Open Society Foundations está transferindo suas operações e equipes internacionais sediadas em Budapeste para a capital alemã, Berlim", confirmou o grupo nesta terça-feira.
Patrick Gaspard, presidente da Open Society Foundations, atacou o governo húngaro, dizendo que "denegriu e deturpou nosso trabalho", enquanto reprimia a sociedade civil "por causa de ganhos políticos".
O grupo baseou sua decisão no fato de que Budapeste "se prepara para impor mais restrições a organizações não-governamentais através do que rotulou como o pacote de legislação 'Pare Soros'".
Orban se manifestou repetidamente contra as agendas prejudiciais da fundação de Soros e outras ONGs, acusando o bilionário de interferir nos assuntos políticos internos da Hungria, financiando grupos de oposição.
Falando sobre as recentes eleições e a vitória de seu partido Fidesz, Orban disse: "Eu sei que eles não vão aceitar o resultado da eleição, eles vão organizar todo tipo de coisas, eles têm recursos financeiros ilimitados".
Quando a notícia da possível saída da Open Society Foundations da Hungria se rompeu em abril, Orban disse: "Você pode entender se eu não chorar".
Em fevereiro, o Fidesz submeteu um projeto de lei ao parlamento chamado "Lei Pare Soros" — em referência ao magnata húngaro-americano — que restringiria a imigração e também afetaria as ONGs financiadas por estrangeiros. O projeto de lei diz que todas as ONGs que "apoiam a imigração ilegal" precisam ser registradas, enquanto qualquer ONG que recebe dinheiro do exterior deve pagar um imposto de 25%.
Além disso, os cidadãos estrangeiros e os cidadãos húngaros que apoiam a imigração ilegal podem estar sujeitos a uma ordem de restrição que os manterá afastados da fronteira.
"Se Soros for encontrado e estiver envolvido em tal atividade, o que significa que ele organiza a imigração ilegal, então as regras serão aplicadas a ele", disse o porta-voz do governo, Zoltan Kovacs, em fevereiro.
O magnata de 87 anos trabalhou como negociador e analista antes de fundar a Soros Fund Management em 1969. Tornou-se um dos principais investidores do mundo, gerando uma enorme riqueza para si mesmo.
O projeto Open Society Foundations foi iniciado em 1979, com a primeira fundação fora dos EUA na Hungria em 1984. O grupo atualmente tem gastos anuais de mais de US$ 940 milhões, opera em mais de 100 países em todo o mundo, com 26 fundações nacionais e regionais e escritórios.
O bilionário já foi comparado ao diabo por seus chamados para levar imigrantes para a Europa, o que foi percebido por alguns deputados húngaros como uma tentativa de destruir a independência e os valores dos Estados-nação. O parlamentar húngaro Andras Aradszki, do Partido do Povo Democrata Cristão (KDNP), disse que é um dever cristão lutar contra o que ele chamou de "plano satânico de Soros".
O magnata também enfrentou acusações de interferência na política britânica depois que surgiram notícias de que ele doou quase meio milhão de libras para uma campanha que buscava reverter o Brexit.
Orban, um crítico severo da imigração ilegal e das cotas obrigatórias de imigração de Bruxelas, declarou certa vez que a recente onda de refugiados que entram na Europa é uma invasão.
Em dezembro de 2017, a Hungria, juntamente com a Polônia e a República Tcheca, disse que se reserva o "direito" de rejeitar as cotas de refugiados impostas pela União Europeia (UE), apesar da pressão da Comissão Europeia. Os três países argumentaram na época que os refugiados poderiam representar uma ameaça direta à segurança pública.