Para os EUA nada de especial realmente aconteceu, pois todo o mundo já está acostumado a declarações fortes por parte de Pyongyang, escreve o jornalista. Por isso, Washington entende os protestos de Kim como uma "manobra" deliberada, uma espécie de capricho. Ao mesmo tempo, a Casa Branca nem duvida que o país vá ceder aos poderosos EUA e se desarmar.
Na realidade, opina o autor, a diplomacia da administração Trump escreveu seu próprio cenário para o encontro em Singapura, que não agradou a Pyongyang. Tanto mais que o país tem capacidade para resistir.
"Os EUA deverão entender que a pressão contra Kim não vai funcionar para Trump, da mesma forma que não funcionou para os antigos presidentes dos EUA com os anteriores Kim. Em primeiro lugar, porque não se trata da batalha de um gigante contra um anão solitário, mas de diplomacia de que participam várias potências fortes", assinala o colunista.
Kosyrev explica que, na percepção dos norte-americanos, todas as concessões devem caber somente a Pyongyang, que recusou a mediação chinesa para falar diretamente com Trump. Este, por sua vez, acredita que todas as questões econômicas devem ser discutidas com a Coreia do Sul, e não com Washington, enquanto Pyongyang deve fechar seu polígono nuclear, libertar os prisioneiros americanos e acordar em se encontrar em um território, não totalmente neutral, mas aliado dos EUA, em Singapura. Ou seja, concessões sem parar, unilaterais, frisa o colunista.
Já as "negociações entre iguais com concessões bilaterais" são um horror para a equipe de Trump, que se posiciona como os "tipos duros", que vencem apenas através da pressão.
"Eles anunciaram de antemão que Kim já se rendeu. E aí, de repente, aparecem estes problemas — nem conseguem fazer obedecer a pequena Coreia do Norte", escreve o jornalista.
Para comprovar esta teoria, Kosyrev fala da recente visita do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, a Pyongyang, durante a qual ele supostamente teria entregue o plano para o próximo encontro. Os norte-coreanos ouviram-no, esperaram um pouco e "logo manifestaram sua reação", diz o autor.
Ademais, o autor relembra o caso da chamada "guerra comercial" que se iniciou recentemente entre Pequim e Washington, e conclui que a tentativa de exercer pressão sobre os chineses e os norte-coreanos acabou por se virar contra o próprio Trump.
A história do acordo nuclear iraniano rompido pela parte estadunidense no início de maio ainda bota mais lenha no fogo.
"Trata-se do mesmo tipo de acordo que está sendo discutido com a Coreia do Norte, e se os EUA o romperam de modo tão fácil, para que os norte-coreanos precisariam acordar algo com tal parceiro?", se pergunta o colunista.
Ao concluir, Kosyrev realça que o resultado do encontro em Singapura em 12 de maio será "interessante", mas é certo que a cimeira não vai decorrer do modo planejado pela Casa Branca.