Especialista revela verdadeiro objetivo da pressão dos EUA contra Turquia sobre F-35

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Washington está tentando engajar Ancara para um bloco anti-iraniano, exercendo pressão sobre a Turquia com relação à aquisição de 100 caças F-35A de quinta geração e a situação em torno da cidade de Manbij, no norte da Síria, disse observador político turco à Sputnik Turquia.

Os EUA estão implementando uma estratégia anti-iraniana no Oriente Médio, disse o observador político turco, Mehmet Ali Guller, explicando o porquê do ataque com mísseis contra a Síria em 14 de abril, a transferência da embaixada dos EUA para Jerusalém e a hesitação de Washington na entrega de caças F-35 à Turquia com o fato de serem partes de um mesmo plano.

"Aparentemente, [o conselheiro de segurança nacional do presidente dos EUA, John] Bolton está fazendo um trabalho sério de preparação em relação ao Irã", disse Guller à Sputnik Turquia. "Em um futuro próximo, os EUA iniciarão uma operação contra o Irã em grande escala e em várias frentes e isso pode ser parcialmente observado hoje […] O principal problema do ponto de vista dos EUA é como atrair a Turquia para o seu lado dentro do enquadramento dessa estratégia."

Militar norte-americano na cidade de Manbij, Síria - Sputnik Brasil
EUA e Turquia acertam retirada das YPG de Manbij
De acordo com o observador político, os EUA tomaram uma série de medidas para forçar a Turquia a seguir o rumo de Washington e o desenvolvimento da situação em Manbij é atualmente o foco da atenção de Ancara.

"Mais especificamente, [Washington e Ancara] estão discutindo a retirada do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) do território de Manbij, com a subsequente transferência da região para o controle conjunto da Turquia e dos Estados Unidos", ressaltou o observador, referindo-se às Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG), que são vistas por Ancara como uma afiliada do PKK, banido na Turquia.

Elos de uma mesma corrente

Guller acredita que a estratégia dos EUA na região entrou em uma "fase ativa": o ataque de mísseis conjunto conduzido por Washington e seus aliados europeus (Reino Unido e França), em 14 de abril, foi o primeiro passo, segundo o observador.

Em 8 de maio, Washington retirou-se unilateralmente do Plano de Ação Integral Conjunto (JCPOA), também conhecido como acordo nuclear com o Irã. Já em 14 de maio, os EUA abriram sua embaixada em Jerusalém, reconhecendo-a oficialmente como a capital de Israel. Guller acredita que os eventos mencionados fazem parte da política anti-iraniana dos EUA.

"O que os EUA querem? Primeiro de tudo, [querem] que o Irã se retire da Síria. Para atingir esse objetivo, os EUA, em particular, exerceram alguma pressão sobre a Turquia a fim de conseguirem seu apoio durante o próximo passo anti-iraniano […] A questão de Manbij deve ser considerada no contexto dessas medidas dos EUA. Em geral, podemos falar sobre Washington estar adotando uma estratégia de punição e incentivo nas relações com a Turquia", enfatizou o observador.

Veículos blindados norte-americanos na Síria - Sputnik Brasil
Militares dos EUA prometem responder a possível ataque turco contra cidade síria de Manbij
Na segunda-feira (4), o vice-primeiro-ministro turco, Bekir Bozdag, anunciou que Ancara e Washington haviam concordado com o cronograma de retirada do YPG de Manbij.

No final de janeiro de 2018, a Turquia iniciou a operação Ramo de Oliveira para expulsar a milícia curda das regiões fronteiriças turco-sírias. Tendo tomado o controle da cidade de Afrin, no norte da Síria, Ancara sinalizou que expandiria sua operação para Manbij. No entanto, os EUA já começaram a fortalecer sua presença militar na região para proteger as forças curdas apoiadas pelo Pentágono.

Caças furtivos F-35 vs sistema de defesa antiaérea S-400

Mais um ponto de discórdia é a compra de 100 caças F-35A de quinta geração por Ancara, destacou Guller.

"A questão dos suprimentos do F-35 é mais um caso que mostra a pressão exercida pelos EUA sobre a Turquia em resposta à sua decisão de comprar os sistemas S-400 de fabricação russa. No entanto, o projeto F-35, que envolve nove países, incluindo a Turquia, está em andamento há 17 anos. Portanto, não é tão fácil declarar a imposição de restrições contra a Turquia nesta questão de um momento para outro", explicou.

Caça norte-americano F-35 Lightning II - Sputnik Brasil
Turquia admite tensões nas relações com EUA devido à questão dos F-35
De acordo com o observador político, a esperada aquisição da aeronave causa preocupações entre os generais turcos aposentados, que alertam que ela poderia aprofundar a dependência da Força Aérea Turca dos EUA. Eles observam ainda que o F-35 é um projeto extremamente malsucedido e caro. "O S-400 é considerado o melhor sistema de defesa de sua classe, e o F-35 é o pior projeto entre as aeronaves de quinta geração." observou ele.

Após a reunião do ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, em 5 de junho, foi anunciado que Ancara esperava a primeira entrega de caças F-35 em 21 de junho.

"Dissemos aos Estados Unidos que não reagimos bem a ameaças", disse Cavusoglu a repórteres na segunda-feira (4). "Quanto ao F-35, nós já assinamos o acordo… Até 21 de junho, haverá uma transferência para os F-35. Não há nenhum acontecimento negativo."

As questões de Manbij e dos F-35 podem se tornar especialmente sensíveis perante as próximas eleições presidenciais e gerais na Turquia marcadas para 24 de junho. Enquanto isso, as pesquisas indicam que Erdogan lidera a disputa com 53% dos votos.    

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