Segundo o colunista, a venda dos títulos por um valor de 47,5 bilhões de dólares (R$ 170 bilhões) deve ser considerada no contexto da compra ativa de ouro por parte da Rússia. De fato, Moscou não parou de comprar este metal precioso desde que os EUA impuseram sanções à Rússia e agora suas reservas contam com 1.909 toneladas, ultrapassando deste modo as da China.
Os analistas ocidentais consideram que essas ações fazem parte dos preparativos para um colapso ou mudança radical no sistema monetário mundial. Agora, com as notícias de que a Rússia vendeu metade de seus títulos do Tesouro dos EUA, os analistas colocam novas perguntas, afirmou Danilov.
De quem era o dinheiro e para onde foi?
A questão principal que preocupa os especialistas é a quem pertencem os fundos que foram obtidos com essa venda. Segundo o colunista, algumas edições afirmam que apenas uma parte dos títulos vendidos pertencia ao governo russo.
É muito difícil dar uma resposta definitiva a esta pergunta porque o Departamento do Tesouro dos EUA apenas oferece dados por países, sem oferecer mais detalhes.
Entretanto, tendo em consideração que em abril muitos bancos nacionais optaram por vender seus títulos do tesouro norte-americano, Danilov considera que o mesmo ocorreu com os títulos que estavam em posse do governo russo. Levando em conta que o Banco Central russo publica seus dados com um atraso de cerca de seus meses, a mídia não tem outro remédio senão fazer conjeturas sobre o destino final do dinheiro obtido com a venda, afirmou o especialista.
A versão mais conservadora
Embora tal confisco fosse pouco provável por causar dados consideráveis não apenas à Rússia, mas também à economia dos EUA, não nos devemos esquecer que "a administração Trump já mostrou em repetidas ocasiões um determinado desprezo pelo bom senso", sublinhou o economista.
Se esta foi a razão da venda dos títulos de Tesouro, então o Banco Central russo investirá em outros ativos que estejam fora da jurisdição dos EUA com a ajuda de sistemas como a Euroclear (empresa belga de serviços financeiros especializada em operações de títulos e na conservação e manutenção desses ativos).
Resgate da Rusal
Outra versão amplamente discutida é o resgate da empresa de alumínio russa Rusal, que sofreu grandes danos devido às sanções. Em particular, afirma-se que o dinheiro obtido com a venda foi destinado a recomprar as dívidas que a empresa tem em dólares. Mas essa versão é muito pouco provável, opina Danilov.
"Para a recompra das dívidas da Rusal não era necessário vender os títulos norte-americanos por um valor de 47,5 bilhões de dólares, 8,5 bilhões de dólares seriam suficientes", explicou ele.
A explicação menos provável é que a Rússia decidiu rever os coeficientes de suas reservas monetárias e optou por outras divisas, como o euro, afirmou o economista.
Segundo ele, os analistas ocidentais veem nessas ações um “ensaio geral” antes de a China lançar “seu equivalente financeiro a uma arma nuclear” contra os EUA. Medidas tão radicais da China poderiam ser explicadas pelo fracasso das negociações para evitar uma guerra comercial.
"A rápida venda da carteira russa de títulos norte-americanos é uma maneira de recuperar seu dinheiro antes que a China teste um golpe contra o mercado financeiro dos EUA", concluiu Danilov.
Neste caso, a acumulação de ouro e a venda de títulos dos EUA ajudariam a Rússia a minimizar os danos de uma guerra comercial de “todos contra todos”. Antes, a Rússia já tinha mostrado tendência de reduzir a parte de seus ativos em títulos norte-americanos, mas essas reduções não foram tão drásticas.
Depois da redução de 47,5 bilhões de dólares (R$ 170 bilhões), a Rússia passou de 18º para 22º na lista dos principais credores dos EUA. A China continua sendo o líder do ranking, possuindo títulos no valor de 1,18 trilhão de dólares (R$ 4,5 trilhões).