Premissas de uma crise global
Nos últimos meses, as moedas de quase todos os países em desenvolvimento têm experimentado algum tipo de pressão exercida por uma combinação de fatores, como o aumento da rentabilidade dos títulos dos EUA e o fortalecimento do dólar, disse Marsel Salikhov ao portal russo RBC. Para ele, essa combinação de fatores diminui a atratividade dos ativos em muitos países em desenvolvimento para os investidores internacionais.
"Não é uma surpresa que os primeiros a se tornarem vítimas foram jogadores fracos na equipe dos mercados em desenvolvimento como a Argentina e a Turquia", afirmou o jornalista.
Por que a Argentina?
A inflação que saiu do controle do Banco Central da Argentina, o aumento inesperado dos impostos para os investidores não residentes e o agravamento das previsões de colheitas de soja contribuíram para o êxodo massivo dos investidores deste país latino-americano.
Nessas condições, a taxa de câmbio do peso argentino entrou em colapso no fim de abril. Para apoiar a moeda nacional, o Banco Central da Argentina aumentou a taxa de juro de 27,25% para 40% e em uma semana vendeu quase 10% de suas reservas em moedas estrangeiras tentando intervir no mercado. No entanto, essas medidas que deveriam ter funcionado, não deram certo. A cotação do peso continuou caindo. Quais foram as razões pelas quais essas medidas não foram suficientes?
Sua estratégia estava baseada em um plano que previa reduzir o déficit orçamentário em vários anos. No início os jogadores do mercado acreditaram em suas promessas e os investimentos estrangeiros na economia da Argentina aumentaram. Esses fluxos permitiram ao governo de Macri reduzir o déficit. Entretanto, depois de aparecerem os primeiros relatórios que as metas estabelecidas por Macri estavam sendo reconsideradas, os investidores abandonaram o mercado argentino.
A lira doente de Erdogan
Durante muito tempo, a Turquia também tem sido o ponto fraco entre nos países em desenvolvimento. Atualmente, sublinhou o analista.
"Atualmente, o país tem um imperturbável déficit na conta corrente entre 4 e 6% do PIB e um déficit orçamentário crónico de 2 ou 3% do PIB. Nessas condições Ankara precisa constantemente aumentar sua dívida externa", disse o autor.
Apesar disso, o Banco Central da Turquia não teve pressa para aumentar as taxas de juro e mostrar sua independência. Os investidores internacionais, por sua vez, estavam muito preocupados com este movimento e com as declarações do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que a diminuição das taxas de juro poderia ajudar a reduzir a inflação.
Salikhov sublinha que isso contradiz completamente a teoria econômica tradicional: não é possível reduzir a taxa de inflação sem recorrer a uma maior taxa de juro, porque essa medida ajuda a reduzir o volume de dinheiro em circulação.
Lições da história
Naquela época, a desvalorização das moedas nacionais dos países em desenvolvimento levou a um aumento dos encargos de sua dívida externa denominada em moedas estrangeiras. Como consequência, o encargo da dívida real não fez nada senão aumentar. Esse aumento enfraqueceu a economia dos Estados asiáticos.