Apesar da natureza humanitária da questão do destino das bombas de fragmentação e seu reconhecimento como uma das armas mais desumanas, oficialmente Belgrado se abstém de comentar. Especialistas militares sérvios explicam o porquê.
O major-general aposentado Mitar Kovac, presidente do fórum de segurança da Eurásia, afirma que tanto a pressão exercida sobre a Sérvia relativa às bombas de fragmentação quanto o silêncio de Belgrado são compreensíveis à luz da decisão do país de observar a neutralidade militar.
"Em caso de conflito real, essas armas são uma vantagem para o país que as possui, porque as bombas de fragmentação podem 'cobrir' uma superfície muito grande em um curto período de tempo. Os tipos de bombas de fragmentação disponíveis na Sérvia são conhecidos, e a sua quantidade, assim, países membros da OTAN como o Reino Unido e os Estados Unidos exercem pressão sobre a Sérvia, forçando-a a destruir essas munições, com pressão que não vem deles diretamente, mas através de ONGs e determinados mecanismos de cooperação financiados pelo Ocidente", relata Kovac.
O analista militar Aleksandar Radic também comenta para a Sputnik Sérvia que os EUA são os mais insistentes na eliminação das bombas de fragmentação na Sérvia e enfatiza que é fácil ditar condições para as poderosas potências militares cujas tecnologias estão muito avançadas.
"Eles criaram armas de ponta e de alta precisão, com controle a laser e GPS, que podem atingir o alvo sem falhar. Eles produzem bombas aéreas compactas que atingem com precisão o alvo com um risco mínimo de causar danos colaterais, de modo que as bombas de fragmentação de formato tradicional já não são tão importantes para eles. Os países 'ricos', que podem pagar tecnologia de ponta, encontraram substitutos", explica Radic.
"Se por razões políticas e morais quisermos abandonar as bombas de fragmentação, o país precisará primeiro de encontrar uma possibilidade para adquirir novas armas a fim de modernizar as forças armadas no sentido de criar um novo potencial ofensivo que possa substituir o poder de combate das bombas e ogivas de fragmentação", continua Radic.
Segundo ele, não é um segredo que as bombas de fragmentação foram ativamente usadas pelo exército sérvio em muitas zonas de combate no território da antiga Iugoslávia durante o período de 1991 a 1999. Trata-se das bombas britânicas BL-755 e dos contêineres para bombas KMGU-2 de fabricação soviética. Primeiro, os sérvios usaram BL-755 em ataques aéreos contra o Kosovo e Metohija, depois os Harrier britânicos bombardearam o mesmo território com as mesmas bombas.
Na sua maioria, os países da região ratificaram o tratado de Ottawa, mas Radic afirma que não se deve ignorar a diferença entre sua posição e a posição da Sérvia.
Mitar Kovac acrescenta que a Sérvia não pretende usar bombas de fragmentação em caso de um conflito hipotético com seus vizinhos. Segundo ele, esse tipo de armamento é mantido exclusivamente para fins de defesa.
Os políticos sérvios afirmam que Belgrado não pode contar com ninguém para a apoiar militarmente, uma vez que o disposto no artigo 5 do Tratado do Atlântico Norte sobre proteção coletiva não se aplica a países que não são membros da OTAN.
A partir de 2017, mais de 160 países aderiram à Convenção de Ottawa, mas os maiores fabricantes de bombas de fragmentação, e que possuem as reservas mais significativas deste tipo de arma – EUA, China, Rússia e Índia – não aderiram ao Tratado, tal como o Brasil.