Ao completar a 1ª década de existência, o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, mostrou uma solidez que ultrapassou abalos políticos internos. Com a liderança de Rússia e China, os BRICS aproveitaram a oportunidade para consolidar o grupo e projetar uma década de ainda mais integração entre os países.
Um dos temas que ficou em evidência e abriu espaço para essa investida do bloco foi a atual guerra comercial promovida pelo governo de Donald Trump. Os EUA têm protagonizado uma volta ao protecionismo comercial, comprando brigados com aliados como a União Europeia e também a China, abrindo espaço para uma reconfiguração do poder mundial.
Para ele, também é importante ressaltar que a reunião também teve aspectos positivos para o Brasil. Stuenkel acredita que ponto mais alto do país durante o encontro foi o acordo firmado pelo bloco para a abertura de um escritório em São Paulo do Novo Banco do Desenvolvimento (NBD), o Banco dos BRICS.
"Isso é importante em função da baixa visibilidade que essa instituição continua tendo no Brasil. Acho que isso traz um pouco de concretude, de tangibilidade a uma coisa que para muita gente continua sendo um pouco abstrato", ressalta Oliver Stuenkel.
A abertura sinaliza mais oportunidades para os brasileiros, além de ampliar a possibilidade de atuação de profissionais do país no Banco. Oliver ressalta que é comum que seus alunos busquem entrar nas instituições consolidadas do poder financeiro mundial, como o FMI e o Banco Mundial. Com a presença do Banco dos BRICS no Brasil, esse quadro poderia se alterar, alargando os horizonte da diplomacia brasileira dentro do mercado financeiro mundial.
O pesquisador, no entanto, reconhece que o Brasil encolheu-se enquanto ator mundial desde a entrada de Michel Temer e também devido às crises política e econômica que encobrem o país. Porém, é esperançoso no sentido de que a consolidação e o avanço dos BRICS estejam criando um horizonte de atuação mundial que um possível novo governo possa explorar.
"O Brasil passou por um momento complicado, com poucos chefes de Estado visitando o Brasil, e o Temer participou de três cúpulas. Então nesse sentido foi importante para que o presidente pudesse participar das conversas internacionais. Agora, [foi um governo] fraco, de curta duração e em função disso com pouco destaque internacional. A minha esperança é que isso possa mudar depois da próxima eleição", aponta o pesquisador da FGV.
BRICS busca aumentar relevância internacional
"Há toda uma tentativa de criar, sob um ponto de vista mais abstrato possível, que formem uma agência comum entre esses cinco países, que faz com a organização, os BRICS, se torne um ator relevante no cenário internacional. Esse talvez seja o objetivo último", afirma Wrobel.
O professor também destaca que o marco de uma década de integração do bloco é algo que exige arranjos complexos, devido às distâncias culturais e especificidades de cada um dos países. Com isso, é louvável a forma como o grupo se mantém até hoje com destaque internacional e coerência interna.
"Às vezes há uma certa ilusão em torno do que o BRICS pode vir a ser. É muito difícil, porque são 5 países de extrema complexidade, cada um com sua própria agenda, é claro. Mas essa aproximação desses últimos 10 anos, eu acho que é uma grande conquista", aponta.
Com o sucesso do grupo, especula-se a possível adesão de novos países, como a Indonésia, o Paquistão, o Egito, a Jamaica até a Argentina. Sobre a possibilidade de uma possível ampliação, no entanto, tanto Oliver Stuenkel quanto Paulo Wrobel são cautelosos, afirmando que essa ainda é uma possibilidade remota, porém com o precedente da adesão da África do Sul ao grupo.