Esta é a avaliação de Pedro Netto, assessor de Relações Internacionais da CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Com as sanções, o Brasil vai ter dificuldade para conseguir o financiamento das exportações nos embarques para o Irã”, diz o analista. “O relacionamento bancário fica dificultado, e sem ele o exportador brasileiro tem mais dificuldade para receber pelo produto que está vendendo. Então, com essas novas sanções é esperado que o nosso comércio deva diminuir consideravelmente.”
No último ano, segundo dados do Ministério da Agricultura, as exportações do setor para o Irã chegaram a US$ 2,3 bilhões, após alta constante nos últimos anos, sobretudo após a assinatura do acordo nuclear em 2015, do qual os Estados Unidos se retiraram em maio.
A saída para os exportadores brasileiros conseguirem driblar o bloqueio norte-americano pode ser a Europa. Segundo Pedro Netto, esse era o caminho buscado pelos empresários, já que, mesmo após a assinatura do acordo, o comércio ainda era restringido devido a termos contratuais de bancos brasileiros com bancos norte-americanos.
“A maior parte dos bancos brasileiros não aceitava financiar diretamente o comércio com o Irã, porque eles tinham acordo com os Estados Unidos, que, por mais que tivessem reduzido as sanções, ainda consideravam o país envolvido em atividades das quais o Governo norte-americano discordava”, explica o analista da CNA.
O caminho para finalizar as transações encontrado pelos exportadores brasileiros foi, principalmente, o sistema bancário europeu, além de bancos do Oriente Médio.
Se o presidente norte-americano Donald Trump não ceder, essa será uma opção que os empresários terão de fazer. Na última semana, Trump já impôs ao comércio mundial uma escolha entre Irã e Estados Unidos usando o seu habitual Twitter.
“As sanções contra o Irã foram oficialmente lançadas. Elas são as mais duras sanções já impostas, e em novembro serão levadas a outro nível”, enfatizou Trump na rede social. “Qualquer um que mantiver negócios com o Irã não fará negócios com os Estados Unidos. Eu estou pedindo a paz mundial, nada menos!”, escreveu.
The Iran sanctions have officially been cast. These are the most biting sanctions ever imposed, and in November they ratchet up to yet another level. Anyone doing business with Iran will NOT be doing business with the United States. I am asking for WORLD PEACE, nothing less!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 7 de agosto de 2018
A escolha será difícil para o agronegócio brasileiro, que teve no Irã o sexto maior destino para suas exportações no último ano, atrás de China, União Europeia, Estados Unidos, Japão e Hong Kong. Apesar da importância daquele país, porém, em uma comparação direta com os Estados Unidos ainda há uma grande disparidade. Enquanto o Irã foi responsável pela exportação de US$ 2,3 bilhões em 2017, o mercado norte-americano respondeu por US$ 6,7 bilhões das exportações do setor do agronegócio.
Para Pedro Netto, se os países da União Europeia conseguirem manter uma relação estável com o Irã, o impacto ao Brasil tende a ser menor.
“O maior beneficiário em termos comerciais do acordo nuclear com o Irã não foi o Brasil, mas sim a União Europeia. Tanto que vieram da Europa os maiores questionamentos ao fim desse acordo por parte dos Estados Unidos. Se a União Europeia conseguir organizar uma forma de se defender dessas sanções dos Estados Unidos, os impactos ao Brasil tendem a ser menores. Isso é algo muito maior que a relação entre Brasil e Irã e envolve muitos fatores, principalmente a União Europeia”, ressalta o analista.
Apesar do posicionamento dos países europeus, na avaliação do representante da CNA, no entanto, o produtor rural brasileiro será penalizado.
“O Brasil reduziu um pouco as exportações para o Irã neste primeiro semestre, mas aquele país ainda foi um grande parceiro. Com certeza, a redução desse comércio será muito prejudicial ao produtor rural que exporta para lá”, enfatiza Pedro Netto.
A decisão do Governo norte-americano trouxe apreensão para o mercado brasileiro, que se preparava para expandir os laços comerciais com aquele país do Oriente Médio. Em março deste ano, durante o Seminário de Relações Econômicas e Comerciais Brasil-Irã, a Confederação Nacional da Indústria chegou a propor um acordo de livre comércio entre o Mercosul e o Irã.
“A CNI considera que, neste momento, devemos priorizar a agenda econômica, de comércio exterior e de investimentos com o Irã. E o início das negociações para a celebração de um acordo comercial entre o Mercosul e o Irã é um dos temas mais importantes”, declarou, na época, o vice-presidente da Confederação, Paulo Tigre.
O acordo não foi adiante. A Sputnik Brasil questionou a CNI sobre como essa decisão norte-americana afeta a indústria brasileira, mas a instituição informou que ainda está analisando o impacto das sanções.