Vladimir Trifonov, PhD em biologia e responsável pelo Laboratório de Genômica Comparativa do Instituto de Biologia Celular e Molecular da Academia de Ciências da Rússia, comentou essas notícias em entrevista à Sputnik República Tcheca. O cientista detalhou que se trata do cromossomo Y dos mamíferos e não de outros animais que também o possuem.
Segundo Trifonov, a degradação do cromossomo Y é inevitável porque faz poucas trocas de seu material genético com o cromossoma X.
"Em geral, todos os outros cromossomos de nosso genoma de vez em quando trocam seu material com seus homólogos e esta troca suspende sua degradação. A maior parte do cromossoma Y não troca seus pedacinhos com o cromossomo X — é uma peculiaridade de sua evolução. Logo que esta troca, realizada no processo de divisão chamado de meiose, para, estes cromossomos inevitavelmente começam a degradar e degenerar", explicou o cientista, sublinhando que é um modelo absolutamente lógico da evolução de elementos não recombinantes.
Porém, a velocidade do processo de degeneração desacelera com o tempo, frisou Trifonov, referindo-se a experimentos de comparação de cromossomos Y do ser humano e do chimpanzé: "Se no início [os processos] se desencadeavam bastante rapidamente, ultimamente eles têm desacelerado, então não devemos esperar uma rápida degeneração do cromossomo Y nas próximas centenas de milhões de anos.
O que significaria o desaparecimento completo do cromossomo Y para a população masculina?
Trifonov cita como exemplo o rato-ouriço-das-Léquias que perdeu o cromossomo Y, mas não aconteceu nada de grave.
"Outro cromossomo do genoma assumiu a função do cromossomo Y e os genes responsáveis pela espermatogênese transferiram-se para outra parte do genoma. Então é um processo natural da evolução do genoma, que simplesmente desacelerou no caso dos mamíferos", explicou o cientista.
Em outras palavras, a humanidade não tem razões para tentar impedir o desaparecimento do cromossomo Y.
"Se tal processo acontecer, é provável que a humanidade já esteja extinta até esse momento", acrescentou Trifonov.
É que os mamíferos possuem sistemas muito estáveis, por essa razão, adianta o especialista, a degradação de um dos cromossomos parece tão assustadora e iminente. Mas, conclui, estes processos acontecem há bilhões de anos e não representam perigo.