Um relatório das Nações Unidas recomendou que os altos oficiais militares de Mianmar "sejam investigados e processados" por realizarem genocídio e outras graves atrocidades contra a minoria muçulmana Rohingya no extremo oeste do país".
O relatório, baseado em uma investigação local conduzida em Mianmar, acusa as forças armadas do país do Sudeste Asiático de graves crimes de guerra contra os Rohingya. O texto documenta graficamente numerosos casos de assassinatos em massa, violação sistemática e tortura de crianças.
“Em alguns casos, centenas de pessoas morreram. Casas foram trancadas e incendiadas. Poucos sobreviveram ”, diz o relatório.
A publicação acontece apenas um ano depois que cerca de 700 mil rohingya fugiram de Mianmar para o vizinho Bangladesh em meio à violência entre o exército do país e uma facção de insurgentes armados.
A ONU aponta o dedo para membros específicos do alto escalão do Tatmadaw e culpa cinco altos funcionários por orquestrarem uma campanha de limpeza étnica. Além disso, o relatório culpa pessoalmente o notório Comandante dos militares, Min Aung Hlaing, como líder da campanha e pede sua acusação no Tribunal Penal Internacional.
Aung San Suu Kyi
A líder do Mianmar, Aung San Suu Kyi, ganhadora do prêmio Nobel da Paz, também foi apontada no relatório por sua alegada "inação".
No entanto, esta não é a primeira vez que a ONU critica Suu Kyi, descrita pelo ex-presidente dos EUA Barack Obama em 2012 como “um ícone da democracia”. Em dezembro de 2017, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al-Hussein, sugeriu que a líder de Mianmar poderia ser "culpada" pelos crimes cometidos naquela época contra os Rohingya, que incluíam o deslocamento forçado e assassinatos em massa.
"Dada a escala da operação militar, claramente essas teriam que ser decisões tomadas em alto nível", disse o oficial.
O Painel da ONU também criticou o Facebook por permitir que "discurso de ódio" contra os Rohingya se espalhassem pela rede social.
De acordo com a ONU, o Facebook, que se tornou um dos sites mais usados de Mianmar nos últimos anos, tem sido explorado por grupos de vigilantes e militares do país para propagar o discurso de ódio e “propaganda” anti-Rohingya.
Resposta dos EUA
Os Estados Unidos, que há muito tempo defendem Aung San Suu Kyi como uma garota propaganda da promoção da democracia, estão realizando seu próprio inquérito sobre a campanha militar de Mianmar. Uma porta-voz do Departamento de Estado disse acreditar que o relatório da ONU demonstra “abusos generalizados dos direitos humanos” pelas forças de segurança.
Washington tem sido acusada de "lavar as mãos" em relação ao conflito, relutando em romper os laços com Suu Kyi e condenar suas operações militares como genocídio ou crimes contra a humanidade.