Em seu artigo especial para a Sputnik, o colunista Vladimir Veretennikov conta como foi administrada a herança soviética nos Estados Bálticos.
Cidade fantasma
A base em Skrunda, construída na década de 60, foi reconstruída e aperfeiçoada pouco antes de ser fechada. Após o colapso da URSS, esta estação, que monitorava os lançamentos de mísseis balísticos nos mares da Noruega e do Norte pelos submarinos da OTAN, passou para a Letônia.
Em dezembro de 2009, o local foi posto para venda em leilão (a um preço semelhante ao de um apartamento de quatro quartos em Riga), mas não encontrou seus compradores. Entretanto, a cidade tem sido bem popular entre os cineastas e turistas.
"Hoje em dia, no centro de estudos do antigo complexo militar reina a desolação. Mas algumas coisas ficaram — livros com notas dos alunos, objetos pessoais dos militares, material ilustrado", contam testemunhas.
Recentemente, a cidade fantasma foi alvo de atração para o exército letão para treinamentos, enquanto em julho de 2016 o ministro da Defesa do país, Raimonds Bergmanis, anunciou que lá seria aberto um polígono da OTAN. De acordo com ele, o território de 45 hectares seria uma plataforma ideal para manobras táticas em ambiente urbano. As mesmas coisas foram ditas pelo comando da Aliança Atlântica.
"Alguns locais foram protegidos por algum tempo, são instalações que as Forças Armadas do país esperavam usar. Depois veio um período de roubos em massa […] Ninguém guardava nada. Uma das coisas mais apreciadas eram os metais, por isso os silos não tinham nenhuma chance", adiantou ao autor do artigo o editor-chefe da revista letã Baltfort, Yuri Melkonov.
Atração para turistas
Em 2017, na Letônia foi desmontada a base de mísseis nucleares R-12 Dvina perto do povoado de Tirza. Era uma construção ciclópica composta de quatro silos subterrâneos e um centro de comando. Uma testemunha que conseguiu visitar o local antes do desmantelamento contou em seu blogue pessoal:
"Estamos subindo. No centro vemos um buraco enorme, com diâmetro de 1,5-2 metros. Custa a crer que aqui em tempos, de literalmente debaixo dos meus pés, uma potência inédita era lançada para o céu. Chego até à beira para olhar para dentro — um abismo, dá medo. [Debaixo da terra] tem numerosos espaços, corredores, passagens. Em muitos lugares, no chão se veem brechas de um ou dois andares, andamos com muita cautela, verificando o piso a cada passo."
Foi apenas alguns anos atrás que as autoridades do país europeu se deram conta do valor destas instalações abandonadas como objetos culturais. Assim, existe até um mapa de tais locais com 70 objetos marcados. Alguns bunkers foram até comprados por empresários solitários que organizaram aqui seus próprios museus.
Museu e armazéns de legumes
Já os lituanos, em muitas ocasiões, administraram a herança militar soviética de modo mais cauteloso. Assim, a base Plokstine, construída na década de 60 para os mesmos mísseis R-12 Dvina que na Letônia, foi fechada em 1978 devido à celebração do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário entre os EUA e a URSS. Porém, desde a década de 90, ela virou uma grande atração turística organizada. Passada mais uma década, lá foi aberto um museu, recriado o ambiente interno de uma base de mísseis soviética e os detalhes da rotina cotidiana dos militares.
Um visitante do museu, Artem Achkasov, conta em seu blogue:
"A reconstrução da base como museu da Guerra Fria começou em 2009 por um grupo de entusiastas. Vale ressaltar que tudo isso aconteceu através da Internet, na base de um fórum de especialistas em fortificações militares. O apelo de um reconstrutor lituano foi atendido por militares russos que serviram nessa instalação e em outras semelhantes. Eles o ajudaram a recriar completamente o ambiente de uma instalação de lançadores em silos, inclusive os uniformes dos militares e os equipamentos. Pelo visto, é por isso que no museu não se cultiva o tema da 'ocupação soviética', mas se explica muito sobre a Guerra Fria."
Enquanto isso, a mídia lituana comunica que alguns bunkers soviéticos, construídos há mais de 50 anos, foram transformados em hortas e porões pelos locais, com a finalidade de armazenar legumes e cultivar cogumelos.
A propósito, adianta o autor, os pilotos estrangeiros confessam um amor especial em relação à base de Amari. Esta base atrai-os não apenas pela sua proximidade da capital, mas também por suas numerosas comodidades. Por exemplo, lá foram construídos campos de golfe, enquanto a seleção de pratos é escolhida com uma atenção especial para os visitantes estrangeiros.
"Os pilotos soviéticos que em outros tempos estiveram baseados aqui nem sonhavam com isto", resume o colunista.