"Todo ato de violência no meio de um processo político democrático é sempre um choque e algo conmpletament contraditório com esse processo. Até porque uma das definições de uma democracia é uma forma pacífica de resolver divergências políticas. Quando acontece um ato de violência como esse, é um problema", argumentou Cláudio Couto, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo (FGV-SP) e especialista em Ciências Sociais e Políticas.
"Desde pelo menos 2005, com o escândalo do Mensalão, quando começou uma contraposição entre o PT e o discurso da direita. E esse discurso violento ganha corpo em 2013, a partir das manifestações de rua", com um apelo contra a política em geral e com violência da polícia e surgimento dos Black Blocks. A mesma polarização se reforçou ainda mais durante a campanha de 2014, que foi bastante violenta e com o questionamento dos resultados. E continuou durante o impeachment, cuja justificativa foi bastante radical.
"É um processo que vem sendo continuamente radicalizado e polarizado. E Bolsonaro ele é de certo modo uma consequência e um beneficiário desse processo. Ele ganha corpo nesse processo", explicou o professor.
Nas redes sociais muita gente duvidou da veracidade do ataque. Mesmo após nota do hospital. Quando a caravana de Lula sofreu ataque a tiros, o mesmo tipo de coisa se observou.
"Isso mostra o descrédito dos políticos em geral. Quando elas são vítimas de uma situação nem sempre muita gente vai levar isso a sério. Por outro lado há uma radicalização tão profunda dos conflitos políticos, que se quem foi vitimado por um ato de violência for o meu adversário, eu não vou acreditar nisso. Se é o meu aliado, eu acredito nele piamente".
"Não chega a ser surpeendente esse resultado", apontou o especialista.
Para o pesquisador da FGV, de uma forma paradoxal, o episódio lamentável pode acabar tendo efeito positivo para a campanha do canditato.
"A consequência imediata que eu espero seja a redução da rejeição do Bolsonaro…Para ele, como candidato, e não pessoa física, seria até um ganho", explicou o pesquisador.
O problema principal, apontado pelo especialista, foi a possibilidade de ocorrer uma tentativa de "instrumentalizar a violência como, se esta fosse cometida por um outro lado específico", concluiu.