O presidente Pyotr Poroshenko afirma que, no futuro, o complexo militar-industrial ucraniano se concentrará na criação de seus próprios mísseis de alta precisão que não serão inferiores em características aos melhores padrões mundiais.
Neste artigo a Sputnik esclarece se Kiev consegue cumprir essa tarefa.
Políticos e líderes militares de Kiev falam há muito tempo sobre o renascimento do complexo militar-industrial. O catalizador disso, como enfatizam os ucranianos, foi a alegada "agressão russa", em resposta à qual o complexo militar-industrial se mobilizou e agora relata regularmente sobre suas inovações.
Por exemplo, dois anos atrás foi anunciado o sistema tático operacional Grom-2, que deveria substituir o sistema de mísseis táticos soviético Tochka-U e se tornar um análogo do russo Iskander. Segundo os projetistas, o alcance máximo do Grom-2 será de 300 quilômetros, com a possibilidade de ser aumentado até quinhentos.
Evidentemente, os especialistas militares ucranianos apontaram imediatamente a Ponte da Crimeia e algumas cidades russas como seus alvos potenciais. Além disso, na opinião deles, os S-300 e até os S-400 russos serão impotentes diante do Grom-2, porque seu míssil pode manobrar e mudar a trajetória do voo, penetrando nos sistemas de defesa antiaérea mais poderosos. Kiev acredita que com essas armas a situação na região mudará radicalmente.
A próxima etapa do rearmamento é um míssil de alta precisão de médio alcance. O especialista militar ucraniano, Valentin Badrak, disse anteriormente que a Ucrânia criará um míssil capaz de "alcançar Moscou". Segundo ele, a nova arma prevê "mudar a retórica das negociações", uma vez que a Ucrânia, armada com "cem ou duzentos destes mísseis", poderá "ditar as suas condições" e "defender a sua posição na área da integração euro-atlântica".
Herança desperdiçada
No entanto, todas essas declarações falham perante a dura realidade. A Ucrânia herdou dezenas de empresas de pesquisa e desenvolvimento e departamentos de projetos da União Soviética, mas depois da "perestroika" essas empresas foram drasticamente se degradando, e isso também se aplica ao setor de mísseis e artilharia.
"Para produzir armas de alta qualidade, é necessária uma determinada reserva cientifica e técnica. O complexo militar-industrial da Ucrânia está estagnado. Eles podem produzir exemplares individuais de armamentos – no máximo, pequenos lotes. A produção em larga escala é muito cara para o país. É muito fácil desperdiçar, criar algo novo é muito mais difícil", elucidou o analista militar Aleksei Leonkov.
O analista militar Viktor Murakhovsky acredita que Kiev dificilmente conseguirá desenvolver um míssil capaz de "alcançar Moscou". Entre um dos fatores está o acordo sobre o regime de controle das tecnologias de mísseis, assinado pelos EUA e pela Rússia. Este documento não permite a entrega de tecnologias que possam levar à criação de mísseis com alcance superior a 300 quilômetros e com uma carga útil de mais de 500 quilos.
Perspectivas sem esperança
Quanto às exportações, as armas devem comprovar sua eficácia e estar em serviço do exército do país fabricante para ter sucesso no mercado global, acrescentou Leonkov.
Na década de 1990, a Ucrânia estava entre os dez líderes mundiais em exportações de armas por meio da venda de estoques soviéticos. O país não pode produzir em massa suas próprias armas, uma vez que toda a produção estava intimamente ligada à cooperação com a Rússia. Hoje essa cooperação está destruída e não há nada para substituí-la.
É óbvio que todas as declarações da liderança ucraniana sobre o renascimento do complexo militar-industrial são pura propaganda destinada a obter mais milhões do orçamento do país e a ajuda de parceiros ocidentais.