O Brasil deixou o Mapa da Fome em 2014. O levantamento da FAO indica quais países têm 5% ou mais de sua população consumindo menos calorias do que o indicado. Com a crise econômica e política, contudo, o Brasil corre o risco de voltar ao Mapa da Fome.
A situação indica uma falta de "vontade política", segundo Daniel Balaban, diretor do Centro de Excelência contra a Fome — uma parceria entre a ONU e o governo brasileiro.
"O Brasil conseguiu atingir números impressionantes no combate à desnutrição desde o início do século, mas agora a fome pode retomar os patamares do século passado. Isso acontece por falta de investimento em certas políticas, que acabam sendo descontinuadas ou por conta da crise econômica recebem menos atenção."
Para Balaban, o combate à fome precisa ser uma política de Estado, e não flutuar de acordo com os dirigentes da ocasião. Ele ressalta que o Programa Fome Zero, criado em 2003 pelo então presidente Lula, tornou-se um modelo para agências internacionais que lutam contra a falta de alimentos.
"Hoje a estratégia Fome Zero que o Brasil desenvolveu serviu de paradigma que a própria ONU está incentivando em vários países do mundo. Hoje entre 40 a 50 países têm uma estratégia chamada 'Fome Zero'."
Cenário internacional
A fome não atinge todos de maneira igual. Segundo a ONU, 821 milhões de pessoas no mundo todo sofrem com ela. 60% destas vítimas da fome, contudo, são mulheres. A situação tem um efeito perverso na saúde de crianças: 45% da mortalidade infantil estão relacionados à desnutrição.
"Os mais afetados são os que vivem em áreas de conflito, principalmente conflito armado — e as mulheres são as maiores vítimas. Os jovens acabam indo para as milícias e participam dos conflitos. Enquanto isso, as mulheres e crianças ficam desassistidas nessas regiões", afirma Balaban.
Um dos exemplos do impacto de conflitos na alimentação é o Iêmen. Em guerra civil, o país do Oriente Médio tem 1,8 milhão de crianças com desnutrição grave. O Iêmen conta 17,8 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar. Os dados são da FAO.