Greenpeace divulgou notícia de que, mesmo no final da temporada de fogo na Amazônia, há ocorrência de queimadas em região entre os Estados do Amazonas, Acre e Rondônia.
Estão identificados trechos ainda sob fogo não apenas no entorno, mas também dentro de áreas protegidas, terras indígenas naqueles três estados.
Os dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam para uma alta de 36% no desmatamento entre junho e setembro deste ano, na comparação com o mesmo período de 2017.
Segundo ele, o fim do período das secas costuma registrar aumento do desmatamento e das queimadas. "Quem quer abrir pastos e novas áreas aproveita o período de seca para fazer as derrubadas e incêndios. O final do período de seca é o mais crítico no caso das queimadas", afirmou o geógrafo.
No entanto, todo o cenário na região remonta às ocupações da década de 1970, quando o governo mlitar tentou colonizar a área ocupada principalmente por povos indígenas, explicou o especialista. Projetos como a Rodovia Transamazônica, que contaram inclusive com financiamento do Banco Mundial, trouxeram famílias do Sudeste e do Sul do país para a Amazônia.
"O método de ocupação dessas terras era: quanto mais floresta derrubada, mais área de fazenda a pessoa conseguiria", destacou o analista do ICMBio.
Segundo ele, o tema de ocupação das florestas não chegava há anos ao nível de uma campanha eleitoral para presidência. Era algo discutido em campanhas para governador de estados amazônicos.
"Isso tem gerado uma expectativa e uma apreensão muito grande entre os ambientalistas e os sevidores públicos da carreira ambiental. Até porque a gente já tem uma situação de trabalho muito conflituosa, por conta do histórico de crimes ambientais de diversas naturezas que ocorrem na Amazônia, principalmente roubo de madeira e fogo para abertura da floresta e grilagem de terras".
"Com as declarações do candidato Jair Bolsonaro esse clima tem se acirrado", lamentou o servidor público.
"Isso coloca o agente do estado não como um legítimo representante da sociedade, cumprindo um dever legal, mas como agente do estado que está lá para arrecadar recursos", acrescentou Denis Rivas.
Para ele, "as pessoas já não gostam de ser fiscalizadas e essas declarações acirram ânimos em cidades que dependem da exploração ilegal da floresta".
Somando a tudo isso as condições de trabalho perisgosas, nem sempre podendo contar com proteção policial, bem como os riscos inerentes à circulação em áreas de mata, o trabalho de alguns servidores se torna em um verdadeiro sacrifício pessoal.
Denis Rivas destaca que é necessário um trabalho político para reverter o quadro. Um trabalho político local para demonstrar às classes políticas locais que "derrubar a floresta com fogo para formar pasto disperdiça inclusive madeira". Que existem formas mais sustentáveis de exploração, como o manejo florestal.
Por isso, não haverá mudanças "enquanto a sociedade e a classe política, principalmente local, não tiver a mentalidade de que a floresta em pé é um benefício para toda a sociedade", concluiu o entrevistado da Sputnik Brasil.