A investigadora Kristin Ven Bruusgaard, que inclusive escreveu uma dissertação dedicada à doutrina nuclear russa na Universidade de Stanford, acredita que a "obsessão" do Ocidente com o possível uso de armas nucleares por parte de Moscou é uma "distorção" das ideias apresentadas pelos estrategistas russos nesse campo.
Bruusgaard conta que, ao longo do trabalho sobre a sua tese, ela havia analisado quatro doutrinas militares russas — de 1994, 2000, 2010 e 2014 — e inúmeras declarações oficiais russas sobre o tema. A especialista frisa que em 2010 da doutrina desapareceu o conceito de "ataque preventivo", e explica que anteriormente a Rússia se focava nas armas nucleares porque as outras áreas do seu potencial militar estavam em uma situação precária após o colapso da URSS. Já quando o país entrou em uma fase de crescimento econômico e modernizou suas Forças Armadas, o enfoque nuclear desapareceu.
"Não quer dizer que as armas nucleares não sejam importantes para a Rússia, a contenção nuclear continua vital para a segurança russa, mas eu acho incorreto dizer que a Rússia escolheu as armas nucleares como principal ferramenta de guerra", opina.
A especialista frisa que o principal eixo da estratégia russa é a contenção, enquanto na doutrina americana este enfoque é muito menos forte. Segundo ela, Moscou provavelmente usaria armas nucleares somente no momento em que a própria existência do Estado russo estiver em risco.
"Eu insisto em que isto difere da estratégia que alguns estrategistas ocidentais chamam da estratégia nuclear russa ou de ameaça de uso das armas nucleares, de acordo com a qual os russos usariam armas nucleares para realizar uma política de agressão contra a OTAN, por exemplo", disse.