Em vista dessas acusações, Moscou "recebeu várias listas de perguntas" dos EUA, segundo Sergei Ryabkov.
"O assunto das muitas perguntas dos americanos excedeu em muito as obrigações da Rússia como parte do tratado, e foi corretamente percebido por nós como uma tentativa de 'escanear' nossos mais novos desenvolvimentos de mísseis", declarou em Moscou.
Os americanos até pressionaram a Rússia a revelar as datas em que testes de uma certa classe de mísseis foram realizados, "de modo que o lado norte-americano possa apontar os questionáveis lançamentos", acrescentou.
"Em outras palavras, durante muito tempo nos pediram para 'resolver o quebra-cabeça' de vários elementos espalhados e, em seguida, nomear o míssil, que os EUA acreditavam não estar em conformidade com o Tratado INF", continuou.
O vice-ministro de Relações Exteriores disse que tal abordagem era sobre fazer a Rússia "confessar a violação, que não cometeu". Moscou não teve outra escolha senão "rejeitar uma tentativa tão intrusiva".
Ao mesmo tempo, os americanos "não apresentaram nenhuma evidência real confirmando nossas violações do Tratado INF", apontou Ryabkov.
A Rússia não tem munições que violem o Tratado INF, confirmou a autoridade russa. O míssil 9M729, que foi objeto de preocupação de Washington, não foi desenvolvido ou testado para alcançar as distâncias proibidas pelo acordo, complementou.
Apesar de os EUA estarem claramente fora de sintonia, Moscou ainda "mostrou alguma transparência no espírito de boa vontade", mas isso não mudou a postura dos americanos de forma alguma, disse o diplomata russo.
"Eles decidiram tudo para si há muito tempo, a única coisa que eles queriam da Rússia é uma confissão de culpa", acrescentou.
No final de outubro, o presidente Donald Trump advertiu que Washington estava considerando a retirada unilateral do Tratado INF porque "a Rússia não aderiu ao acordo", seja na forma ou no espírito. No entanto, o anúncio ainda não foi seguido por nenhuma medida concreta. O líder norte-americano também prometeu que o país continuaria impulsionando seu arsenal nuclear até que a Rússia e a China "voltassem à realidade".
Ryabkov advertiu que, com o curso de ação escolhido pela administração dos EUA, "não podemos excluir o colapso de todo o sistema de controle de armas, que levou décadas para ser construído".
No entanto, o vice de Relações Exteriores afirmou que a doutrina nuclear da Rússia permanece inalterada e é de natureza puramente defensiva. Existem apenas 2 "cenários hipotéticos" em que armas nucleares poderiam ser usadas pela Rússia, explicou.
"O primeiro é o uso de armas nucleares ou outros tipos de armas de destruição em massa contra a Rússia. O segundo é um [ato de] agressão contra a Rússia com o uso de armas convencionais em tal escala que a própria existência do nosso Estado está ameaçada", pontuou.
A situação em torno do Tratado INF será discutida pelo presidente russo, Vladimir Putin e Donald Trump, quando se encontrarem à margem da próxima cúpula do G-20 na Argentina, disse Ryabkov.