O episódio mais evidente envolveu o presidente francês Emannuel Macron, que deu um ultimato a Bolsonaro ao dizer que para haver um acordo entre União Europeia e Mercosul é preciso que o Brasil se mantenha dentro do Acordo de Paris.
Pelo Twitter, Macron comentou o assunto e disse que enfrenta pressões internas para cumprir o Acordo de Paris. "Mercosul, nós não podemos pedir aos agricultores e aos trabalhadores franceses que mudem seus hábitos de produção para lidar com a transição ecológica e, em seguida, assinar acordos comerciais com países que não fazem o mesmo. Queremos acordos equilibrados".
Mercosur: on ne peut pas demander aux agriculteurs et travailleurs français de changer leurs habitudes de production pour mener la transition écologique, puis signer des accords commerciaux avec des pays qui ne font pas de même. Nous voulons des accords équilibrés.
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) 29 de novembro de 2018
Jair Bolsonaro também escolheu o Twitter para responder ao presidente francês e disse que "submeter o país a colocações de outras nações está fora de cogitação".
"Sujeitar automaticamente nosso território, leis e soberania a colocações de outras nações está fora de cogitação. É legítimo que países no mundo defendam seus interesses e estaremos dispostos a dialogar sempre, mas defenderemos os interesses do Brasil e dos brasileiros".
Sujeitar automaticamente nosso território, leis e soberania a colocações de outras nações está fora de cogitação. É legítimo que países no mundo defendam seus interesses e estaremos dispostos a dialogar sempre, mas defenderemos os interesses do Brasil e dos brasileiros.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 29 de novembro de 2018
A Sputnik Brasil entrevistou um cientista político e uma pessoa ligada ao agronegócio para tentar entender o significado das declarações de Emannuel Macron e de Jair Bolsonaro.
Para Paulo Velasco, professor da UERJ e pesquisador do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), Macron usa a questão climática como uma "artimanha diplomática para justificar em um futuro próximo eventualmente o fracasso das negociações entre a União Europeia e o Mercosul".
Velasco citou como exemplo também as restrições impostas à importação do açúcar brasileiro pela União Europeia.
"É como se a França tivesse agora uma desculpa perfeita para não levar à frente a conclusão deste acordo, se aproveitando de um tema do qual sabe que o presidente eleito é muito defensivo", afirmou.
Hélio Sirimarco, vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), usou como argumento de defesa de Bolsonaro e de uma eventual saída do Acordo de Paris dizendo que os produtores brasileiros respeitam a lei ambiental.
"Os números mostram que o Brasil é o país que mais preserva áreas no mundo. Realmente é muito cômodo esse discurso de que temos um problema de desmatamento e de que o setor agrícola não preserva as áreas. As pessoas parecem que ignoram como que funcionam as coisas. O Brasil tem uma legislação rigorosa que obriga os produtores rurais a preservarem parte de suas áreas", afirmou.
Segundo Sirimarco, os responsáveis pelo desmatamento no Brasil não são os produtores rurais.
"O desmatamento não é praticado pelos produtores agrícolas, pelos agropecuários, o desmatamento é praticado por bandidos. A futura ministra da Agricultura [Tereza Cristina] deu entrevista na semana passada, ressaltando esse aspecto de que são os exploradores de madeira, exploradores de minérios que fazem isso de forma ilegal", completou.
A União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai — a Venezuela está temporariamente suspensa) negociam o acordo, há quase 20 anos, com base em três pilares: diálogo político, cooperação e o livre-comércio.