Segundo ele, a imigração deve ser tratada de acordo com "a realidade e a soberania de cada país".
O argumento utilizado por Ernesto Araújo, segundo João Carlos Jarochinksi Silva, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima, não se sustenta e coloca o Brasil ao lado dos EUA, contrário ao pacto.
"[O Pacto Global de Migração] é um instrumento que estabelece objetivos, ele não estabelece políticas vinculativas em relação a isso. Então a argumentação de que afetaria a nossa soberania é um tanto quanto infundada, também demonstra evidentemente a vinculação do nosso alinhamento no futuro governo com os Estados Unidos, que tem trabalhado contra o pacto de migração", explicou.
João Carlos Jarochinksi Silva disse também que a decisão de se alinhar aos EUA pode levar o Brasil a perder sua capacidade de liderança em agendas globais.
O Pacto Global para uma Migração Segura, Ordenada e Regular das Nações Unidas (ONU) foi aprovado na segunda-feira por representantes de mais de 150 países na conferência intergovernamental da organização na cidade de Marraquexe.
Para João Carlos Jarochinksi Silva, a saída do Brasil do Pacto Global de Migração pode também, inclusive, prejudicar os direitos de brasileiros que moram fora do país.
"O Brasil aprovou a nova lei de migração no final de 2017, que obviamente estabeleceu alguns marcos na construção de políticas, na construção da resposta brasileira, mas também possibilita que o estado brasileiro pleiteie proteção, direitos aos brasileiros que se encontram fora, essa é a natureza cooperativa que se espera dessa questão migratória", comentou.
O comentário de Ernesto Araújo foi também alvo de criticas por parte do atual chanceler, Aloysio Nunes Ferreira via Twitter.
O discurso de impedir a entrada de imigrantes é, segundo João Carlos Jarochinksi Silva, mais cara do que se criar políticas públicas de atendimento às pessoas que desejam entrar no país.
"Essa dinâmica de construir barreiras, de política de fronteira fechada, isso não tem efetividade, gasta-se muito em relação a isso. Estudos apontam que, inclusive, gasta-se mais quando você pensa nessa perspectiva de impedir as pessoas de chegarem do que pensar uma política de integração", completou.