Em vários grupos dinamizadores de protestos em 14 locais de diversas cidades do país, especialmente através do Facebook e do WhatsApp, as razões da manifestação são bastante diversas, mas centram-se em exigências econômicas: redução das taxas e impostos, aumento do salário mínimo nacional e das aposentadorias e adoção imediata de medidas efetivas de combate à corrupção.
"Pretendemos apenas dar voz à insatisfação que temos presenciado e vivido neste país. Não nos cingimos a uma doutrina ou filosofia, mantemos e respeitamos a liberdade cívica", diz um dos documentos que estavam circulando por um dos grupos dos "coletes amarelos" no Facebook.
As forças de segurança esperavam manifestações de grande envergadura e estavam bem preparadas para recebê-las. Foram mobilizados cerca de 21.000 policiais, que ficaram estrategicamente a postos nas ruas que levavam à Praça Marquês de Pombal, em Lisboa, formando três cordões circulares em torno da praça.
Por volta das 13h (11h em Brasília), um grupo de mulheres deu as mãos e se dirigiu na direção dos policiais, o que permitiu aos manifestantes "libertarem-se" do círculo e dispersarem-se pela zona contígua, misturando-se com as pessoas que simplesmente observavam. A partir daí, o número de pessoas na praça se manteve sensivelmente o mesmo.
A Sputnik Brasil ouviu alguns testemunhos dos participantes da manifestação:
"Estamos fartos, não só deste governo, mas de todos os governos, deste regime de corrupção, dos políticos que não dão o exemplo, que vivem acima da lei. Depois sobrecarregam as pessoas de impostos, diretos e indiretos. Em Portugal ganha-se pouco e paga-se muito", diz um dos manifestantes.
"Cada um de nós está aqui por razões diferentes. Não é justo que eu, por exemplo, no setor privado tenha que trabalhar mais 5 horas por semana que no setor público", respondeu outro à pergunta da Sputnik sobre os motivos de ter aderido à ação.
Algumas outras pessoas falaram do baixo valor do salário mínimo e das aposentadorias muito baixas, que são insuficientes para os idosos se alimentarem e ligarem o aquecimento no inverno.
A pouca adesão das pessoas à manifestação teve duas principais razões. Em primeiro lugar, todos os partidos e sindicatos se demarcaram das ações, afirmando que o "movimento foi instrumentalizado" pela extrema-direita, nomeadamente pelo partido PNR, ultranacionalista. Isso inibiu muita gente de participar, para não ser associada a esta ideologia.
Em segundo lugar, o movimento não teve, nestas manifestações, uma liderança nem qualquer organização visível. Parecia uma tentativa espontânea de pessoas insatisfeitas, mas sem uma estratégia clara de como alcançar os seus objetivos. O que significa que, em Portugal, os sindicatos e os partidos ainda continuam a ter um papel importante na mobilização da população.