Desde antes do período de campanha eleitoral, Bolsonaro vem defendendo um alinhamento praticamente automático de Brasília com Washington, em detrimento de outros laços de grande importância entre o Brasil e outros países. Entretanto, mesmo eleito e visto com bons olhos por grande parte da população, o político ainda não conseguiu convencer a maioria de que sua principal ideia para a diplomacia é, de fato, a melhor para o Brasil.
No levantamento divulgado hoje pela Folha de S. Paulo, 66% dos entrevistados disseram discordar de uma preferência aos EUA nas relações exteriores, enquanto apenas 29% concordaram, 4% não opinaram e 1% não concordou nem discordou. Fora isso, entre os que concordaram, metade disse apoiar apenas parcialmente a proposta.
Segundo o cientista político Maurício Santoro, professor de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a pesquisa em questão possui uma importância destacada, se considerarmos que são poucas as sondagens sobre o que os brasileiros pensam de política exterior. Para ele, ao contrário do que acha o novo governo, o melhor para o Brasil seria não se alinhar automaticamente com nenhum país, já que isso jogaria contra as vantagens já obtidas por Brasília no exterior.
"O modo como o comércio exterior brasileiro hoje está estruturado, o modo como as relações políticas e econômicas do Brasil estão montadas se tornou muito diverso. O Brasil não tem uma concentração de comércio, de investimento em nenhum país, em nenhuma região", disse ele em entrevista à Sputnik Brasil. "Os interesses brasileiros estão distribuídos por uma grande quantidade de países, continentes e regiões geográficas. Então, é importante também que a diplomacia busque esse mesmo tipo de diversidade, de variedade, e aprenda ali a extrair o melhor possível de cada parceiro, o máximo possível de cada oportunidade."
O especialista explica que apesar do comportamento hostil demonstrado pelo presidente eleito em relação ao principal parceiro comercial do Brasil, a China, a expectativa em Pequim é, atualmente, a de que Brasília acabe optando por uma relação pragmática entre os dois países, em função da enorme importância dos interesses que unem esses Estados.
Santoro defende que, no cenário internacional, o melhor caminho para o Brasil é seguir defendendo os princípios do multilateralismo, buscar uma política de abertura de novos mercados — em particular, na Ásia — e unir esforços, na América do Sul, para enfrentar dois grandes problemas que têm atingido a região: a situação econômica adversa e a questão da crise migratória venezuelana.
"A meu ver, uma política externa pragmática estaria voltada para esse tipo de situação, tendo como objetivo principal utilizar a diplomacia como uma ferramenta para a retomada do desenvolvimento, para a retomada do crescimento econômico do Brasil."