Em outro sinal de turbulência em torno de Maduro, que deve ser empossado na próxima quinta-feira, a Suprema Corte da Venezuela confirmou que um juiz que participou de um painel que lida com questões eleitorais fugiu do condado.
A notícia da deserção de Christian Zerpa aconteceu um dia depois que a Assembleia Nacional, controlada pela oposição, declarou que a presidência de Maduro era ilegítima e pediu um governo de transição para organizar eleições democráticas.
Respondendo no Twitter, Maduro declarou: "A legitimidade nos foi dada pelo povo com o seu voto. Para aqueles que esperam quebrar a nossa vontade, não se enganem. A Venezuela será respeitada!"
La Revolución Bolivariana llegó al poder por la vía democrática hace 20 años y se ha ratificado con 23 victorias electorales, la legitimidad nos la ha dado el pueblo con su voto. Aquellos que pretenden doblegar nuestra voluntad, no se equivoquen. ¡Venezuela Se Respeta! pic.twitter.com/HU2TkO5MuX
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) 6 de janeiro de 2019
Maduro foi reeleito em 20 de maio nas eleições presidenciais convocadas por uma Assembleia Constituinte paralela, apoiada pelo regime e boicotada pela oposição, nas quais muitos dos líderes mais conhecidos estavam sob prisão domiciliar ou impedidos de concorrer.
Os Estados Unidos, a União Europeia e um grupo de países do hemisfério ocidental chamado de Grupo de Lima se recusaram a reconhecer a eleição.
Na sexta-feira, o Canadá e 12 outros países do Grupo de Lima se uniram para pedir a Maduro que renunciasse e abrisse o caminho para um governo de transição formado por líderes da Assembleia Nacional.
O Departamento de Estado dos EUA divulgou um comunicado no sábado dizendo que os Estados Unidos estão com a Assembleia Nacional como "a única instituição legítima e última remanescente democraticamente eleita que realmente representa a vontade do povo venezuelano".
No domingo, o Ministério de Relações Exteriores venezuelano acusou Washington de tentar "consumar um golpe de Estado [...] na promoção do repúdio de instituições legítimas e democráticas".
Alegações de assédio
A Suprema Corte, entretanto, disse que abriu uma investigação sobre Zerpa, devido a alegações de que ele assediava sexualmente mulheres que trabalhavam em seu escritório. A Corte disse que a investigação remonta a novembro de 2018, mas só foi tornada pública após os relatos de que a justiça havia fugido para a Flórida.
Jornalistas venezuelanos baseados nos Estados Unidos ligaram a deserção à polêmica tentativa de Maduro de permanecer no cargo por mais seis anos.
A jornalista Carla Angola, que afirmou ter entrevistado Zerpa, informou que ele estava na Flórida e estava preparado para cooperar com os promotores dos EUA investigando a corrupção venezuelana e as violações dos direitos humanos.
O presidente da Suprema Corte, Maikel Moreno, declarou que Zerpa foi alvo de inúmeras denúncias de "conduta indecorosa e imoral em detrimento de um grupo de mulheres".
O comunicado da Suprema Corte afirmou que ele estava sendo investigado por "assédio sexual, atos lascivos e violência psicológica" contra as mulheres em seu escritório.
Moreno negou que o caso expõe divisões dentro do tribunal, que agiu consistentemente de acordo com o governo.
"Longe de nos separar, nos une", disse ele.
Zerpa era membro do Partido Socialista Unido (PSUV) e foi nomeado para o Supremo Tribunal em 2015, dias antes de a oposição assumir a maioria na Assembleia Nacional.
Ele estava entre um grupo de autoridades venezuelanas atingidas com sanções financeiras pelo Canadá, enquanto Ottawa se movia para pressionar o governo de Maduro.