'Fazendo história': que fins persegue Maduro com exercícios militares em grande escala?

© REUTERS / Miraflores PalaceNicolás Maduro, presidente da Venezuela
Nicolás Maduro, presidente da Venezuela - Sputnik Brasil
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Neste domingo (10), o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, deu início às maiores manobras na história do país, Bicentenário de Angostura 2019, do qual participarão as Forças Armadas, bem como as unidades da Milícia Bolivariana da Venezuela.

A Sputnik explica que objetivos têm as manobras venezuelanas, que significado tem o envolvimento nelas de massas populares e quais são atualmente as ameaças que o exército venezuelano poderia encarar.

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De acordo com Nicolás Maduro, "este é o exército do libertador Simón Bolívar em pé outra vez fazendo história! O único que a Venezuela quer é paz, respeito, futuro, prosperidade".

O presidente do país afirmou que a Venezuela quer paz, "mas está pronta, disposta e preparada para defendê-la caso seja preciso com as armas da república".

As manobras durarão até 15 de fevereiro. Maduro apontou que os exercícios recordam o bicentenário do Congresso de Angostura, quando Simón Bolívar pronunciou um discurso em que estabeleceu a doutrina da independência da futura República.

'As mais importantes da história'

O mandatário considerou as manobras como "as mais importantes" ao longo de toda a história do país. Em entrevista à Sputnik Brasil, vários analistas comentaram as palavras de Nicolás Maduro.

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Segundo o professor Viktor Jeifets, da Faculdade de Relações Internacionais da Universidade Estatal de São Petersburgo e especialista em assuntos latino-americanos, os exercícios militares do país visam demonstrar a força e a unidade das Forças Armadas da Venezuela.

"As manobras devem demonstrar a força e a unidade do exército venezuelano. E talvez, para ele [Nicolás Maduro] seja um método de receber mais uma vez o apoio dos generais", afirmou.

Entretanto, o analista apontou que a importância das manobras é exagerada, já que os generais e coronéis não tomam decisões apenas durante manobras. Portanto, Maduro mostra com ajuda das manobras que ele continua controlando a situação no país, por outro lado, esse é um controle muito convencional, de acordo com Viktor Jeifets.

Já conforme a opinião do vice-diretor do Instituto da América Latina da Academia de Ciências da Rússia, Boris Martynov, com as manobras Nicolás Maduro persegue dois objetivos principais.

"Estas manobras visam mostrar, em primeiro lugar, que ele [Nicolás Maduro] controla o exército e, em segundo lugar, que uma intervenção externa é impossível […] não só porque o exército venezuelano é bastante forte, mas, como mostra a realidade, está unido. Uma intervenção externa, de que com certeza participariam os Estados Unidos, iria unir toda a Venezuela. A história desse país, de todos os países latino-americanos, o prova."

Segundo o analista, a história demonstra que nos países latino-americanos eles podem brigar e até guerrear entre si, mas quando surge um inimigo comum, se opõem todos juntos. Martynov apontou que os EUA o entendem muito bem.

Milícias são mais confiáveis? 

Além das Forças Armadas, das manobras participação também cinco mil civis da Milícia Bolivariana da Venezuela. Os analistas comentaram à Sputnik Brasil o envolvimento das milícias nas manobras.

Segundo Viktor Jeifets, o presidente Nicolás Maduro confia nas milícias ainda mais que nas Forças Armadas.

"Naquelas [milícias] que não fazem parte do exército regular o governo de Maduro confia mais ainda, já que em vários casos são até mais fiéis ao poder executivo. Sendo assim, mantê-las do seu lado para Maduro é uma questão de sobrevivência."

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Por sua vez, o especialista do Centro de Jornalismo Militar e Político, Boris Rozhin, apontou que envolvendo as estruturas irregulares nas manobras Maduro aposta na interligação das estruturas políticas e militares, mobilizando assim seu apoio.

"[Nicolás Maduro] está resolvendo a questão da incorporação das milícias nesta estrutura [Forças Armadas] que, segundo ele, devem atuar ao lado do exército, fortalecendo a interligação das estruturas políticas e militares, demonstrando assim o apoio [ao governo] não somente das Forças Armadas, mas também dos apoiadores e civis, que podem ter a possibilidade de receber armas […] em caso de ocorrerem certos cenários de conflitos armados."

De onde poderia vir ameaça? 

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No âmbito das manobras, a Venezuela concentrou uma grande parte das suas forças na fronteira com a Colômbia.

Nesta terça-feira (12), a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) efetuou manobras "cívico-militares" na ponte fronteiriça de Las Tienditas. Desde a semana passada do lado colombiano estão aguardando caminhões com ajuda humanitária dos EUA, cuja entrada foi descartada por Nicolás Maduro.

A ponte foi fechada na quarta-feira passada (6) pelos militares venezuelanos, que usaram um tanque de combustível e dois contêineres para criar uma barricada.

Segundo havia anunciado antes o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino do país, a ajuda humanitária deve entrar na Venezuela no dia 23 de fevereiro.

"Anunciamos então que 23 de fevereiro será o dia em que entrará a ajuda humanitária", disse Guaidó durante uma manifestação em seu apoio em Caracas.

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Os analistas, ao destacarem que uma intervenção é quase impossível, entretanto indicam as zonas de fronteira da Venezuela com a Colômbia e com o Brasil como as mais vulneráveis.

Segundo Aleksandr Chichin, diretor da Faculdade de Ciências Econômicas e Sociais da Academia de Economia Nacional e Administração Pública russa, que falou com o serviço russo da Rádio Sputnik, ele admite a possibilidade de uma agressão através destes dois países.

"Não se pode tratar de uma agressão aberta. Porém, pode ocorrer uma agressão através dos vizinhos da Venezuela – através da Colômbia e, em menor extensão, através do Brasil, é muito possível, ou seja, a infiltração de alguns indivíduos, alguns comandos, capazes de levarem a cabo provocações individuais", assinalou.

A mesma opinião é compartilhada por Boris Martynov.

"Os territórios mais vulneráveis para uma invasão, em teoria, são a bacia do Caribe, a fronteira entre a Colômbia e Venezuela […] e a fronteira com o Brasil [através do Estado] de Roraima, Amazonas. São difíceis de serem penetrados, mas, no pior cenário, fuzileiros navais o podem fazer", explicou.

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