Em entrevista ao portal Uol, o general Elias Martins Filho, que comanda as forças das Nações Unidas na República Democrática do Congo disse que recebeu uma ligação do chefe do Departamento de Operações de Paz, Jean-Pierre Lacroix para falar sobre a questão. O oficial da ONU teria pedido que Martins Filho ajudasse a "trazer o Brasil de volta às missões de paz".
"Os próprios militares também não queriam ir para esse tipo de enfrentamento, porque o centro africano ali é uma região muito perigosa, tem a questão do ebola, guerrilhas, dos [grupos terroristas] Boko Haram, Al-Shabaab… Nós brasileiros nunca combatemos esse tipo de terrorista em uma guerra irregular", conta.
Gennari diz que, como "ninguém quer fazer o serviço, a ONU quer que o Brasil se habilite". Ao contrário do cenário em 2003, quando o então presidente Lula decidiu assumir os custos operacionais e políticos do envio de soldados ao Haiti projetando uma possível cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, o especialista acredita que as condições diplomáticas neste momento não permitiriam tal feito.
"Nós não temos armas nucleares, nossos recursos para as Forças Armadas ainda são muito baixos e não chega a 2% do PIB brasileiro enquanto que só os SEALS (soldados especiais da Marinha americana) têm um orçamento de US$ 1 bilhão. Tudo isso influencia na entrada no Conselho de Segurança da ONU. A gente também precisa ver como vai ser o pensamento do Brasil nessa geopolítica que se está desenhando, talvez uma nova Guerra Fria entre EUA e Rússia", analisa Gennari sobre quais fatores seriam mais pertinentes à entrada ou não do Brasil no Conselho.
O analista de segurança diz que o Brasil precisaria pesar os custos financeiros, midiáticos e de vidas ao decidir se alinhar às tropas na ONU no continente africano, acrescentando que "se houver combate, no enfrentamento teremos problemas e baixa dos dois lados". Ele porém pontua que a expertise advinda de uma missão contra o terrorismo nos moldes da Minusca pode ser positiva em termos de treinamento das tropas nacionais.
"Poderia enviar pequenos pelotões para observar. Agora estamos com uma GLO [Garantia da Lei e da Ordem] no Brasil e está na hora de começarmos a participar e ver como funciona uma guerra irregular. Seria uma possibilidade de combater a criminalidade do Brasil, que vai tomando características parecidas [às das milícias terroristas]. Nós também temos uma fronteira gigantesca e não sabemos como será o amanhã", conclui Gennari, mencionando a necessidade de se aprender a combater grupos como o Exército Nacional da Libertação colombiano, guerrilha que recentemente voltou a se engajar em ataques terroristas urbanos no país vizinho.