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Ajuda humanitária brasileira à Venezuela mostra 'ruptura' na tradição do Itamaraty

© AP Photo / Fernando Vergara Ajuda humanitária dos EUA enviada à Venezuela e armazenada na Colômbia.
Ajuda humanitária dos EUA enviada à Venezuela e armazenada na Colômbia. - Sputnik Brasil
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Em cooperação com os Estados Unidos, o Brasil criou uma força-tarefa para enviar ajuda humanitária à Venezuela. Brasília pretende que o envio de mantimentos comece no dia 23 de fevereiro - data limite que o autoproclamado presidente Juan Guaidó deu para o início do processo.

O presidente Nicolás Maduro afirma que a ajuda humanitária é uma espécie de pretexto para uma invasão militar e nega sua entrada. Os Estados Unidos já enviaram ajuda humanitária para a Colômbia, mas ela não entrou em solo venezuelano porque Maduro fechou uma ponte que liga os dois países. Caracas também fechou sua fronteira com as Ilhas Antilhas Holandesas, no Caribe.

Tanto Guaidó como autoridades dos EUA já afirmaram que bloquear a entrada de ajuda é um "crime contra a humanidade".

Segundo o Palácio do Planalto, os mantimentos brasileiros serão deixados em Pacaraima e Boa Vista, em Roraima, e precisarão ser recolhidos pelo "governo do presidente encarregado Juan Guaidó" por meio de "caminhões venezuelanos conduzidos por venezuelanos".

A Sputnik Brasil entrevistou a professora de relações internacionais da ESPM Denilde Holzhacker para entender o que esse passo significa para a América Latina e a política brasileira.

Holzhacker diz que a postura brasileira mostra uma "ruptura" com a tradição de não-intervenção da Chancelaria brasileira. Já durante o governo de Michel Temer, o Brasil assumiu uma postura crítica em relação à Venezuela, avalia a professora da ESPM, mas o novo governo de Jair Bolsonaro foi mais longe.

"A posição brasileira não é só de apoio a Guaidó, mas uma visão de que o regime de Maduro tem que ser alterado [então] pode-se usar outros recursos que não são tradicionais."

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A instabilidade na Venezuela tem mostrado que os países das Américas têm diferentes respostas para encarar a crise. O Grupo de Lima e os Estados Unidos defendem Guaidó como presidente. Já México, Bolívia, Uruguai e a Comunidade do Caribe defendem uma espécie de "saída negociada" com a realização de novas eleições.

A segunda iniciativa, que também conta com a participação da União Europeia, chegou a realizar uma cúpula no Uruguai para discutir a crise na Venezuela. O encontro do chamado "Grupo de Contato Internacional" rendeu o pedido de uma "saída interna" para a crise e determinou o envio de uma delegação para Caracas.

O chanceler Ernesto Araújo já classificou o Grupo de Contato Internacional como "pouco produtivo".

Há, também, os defensores de uma intervenção militar. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já afirmou mais de uma vez que a via armada é uma "opção" para lidar com Caracas. O próprio Guaidó também já disse que não exclui "autorizar" uma intervenção militar de Washington.

Reportagem da Folha de S. Paulo publicada nesta quarta-feira (20) diz que os Estados Unidos pressionam o Brasil para usar poderio militar e forçar a entrada dos mantimentos na Venezuela.

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Holzhacker acredita que esta via pode não ajudar a oposição e pode até mesmo fortalecer Maduro. Ela ressalta que o cenário é instável e de difícil definição:

"Ainda não há clareza sobre como vai ser a participação do Brasil na ajuda humanitária. Mesmo no governo não há consenso."

A professora da ESPM também diz que há precedentes nas relações internacionais da ajuda humanitária ser usada para "enfraquecer um governo e fortalecer outro grupo" e que este "seria o caso na Venezuela", mas ressalta que o Brasil não reconhece Maduro como presidente, mas sim Guaidó.

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