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Pesquisador questiona hegemonia militar do Brasil na América Latina

© Sputnik / Renan LúcioParede pintada na cidade brasileira de Pacaraima, em Roraima, perto da fronteira com a Venezuela
Parede pintada na cidade brasileira de Pacaraima, em Roraima, perto da fronteira com a Venezuela - Sputnik Brasil
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O Brasil foi classificado em um ranking do site Global Firepower como a principal força militar da América Latina, enquanto a Venezuela ficou em 6º lugar. Mas será que isso corresponde à realidade? Para comentar o resultado, a Sputnik Brasil ouviu Tanguy Baghdadi, professor de Relações Internacionais da Universidade Veiga de Almeida.

Segundo o levantamento divulgado pelo site, o Brasil supera México, Argentina, Peru e Colômbia entre as cinco principais forças militares da região. Foram utilizados cerca de 50 critérios para a definição do ranking. Entre eles estavam itens como o tamanho das tropas, a quantidade e o tipo de armas e o desempenho em conflitos anteriores.

A divulgação do ranking vem em meio ao aumento da tensão regional, puxada pelo enfrentamento político na Venezuela. Apesar da negativa dos governos regionais, a pressão dos Estados Unidos tem criado especulações de uma possível invasão militar no país.

Em entrevista à Sputnik Brasil, Tanguy Baghdadi, professor de Relações Internacionais da Universidade Veiga de Almeida, demonstrou preocupação com a possibilidade de um conflito em um país vizinho ao Brasil.

"Temos que estar atentos porque [um conflito] tende a ter resultados muito catastróficos. O que a gente está vendo com o Maduro na Venezuela é algo que a gente já viu diversas outras vezes em vários outros cenários. Você tem um governo que era um governo forte, um governo que vai perdendo força e vai se tornando progressivamente autoritário. E no momento em que ele está praticamente sem forças, no momento em que ele já é bastante impopular, no momento em que ele tem problemas domésticos grandes demais e ele começa a ficar isolado ele resite valendo-se cada vez mais de força, de autoritarismo […] e se torna um governo basicamente insustentável, um governo que está lá apenas ocupando o tempo", diz Baghdadi.

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Apesar da análise pessimista em relação a Maduro na Venezuela, o professor acredita que um conflito possa vir a ser benéfico para o mandatário.

"Ele já não governa mais, ele já não traz benefícios para a sua população. De modo que uma guerra nesse momento talvez, isso é uma especulação, talvez seja algo bastante benéfico ao próprio Maduro. O Maduro ele iria levantar um discurso de resistência nacional, qualquer coisa assim", afirma.

Diante do quadro de deterioração do cenário político venezuelano, o professor vê um possível conflito como arriscado para o Brasil, que tem uma região de fronteira de tamanho considerável com a Venezuela.

"E é uma guerra que é importante porque se lembre que é do lado da nossa fronteira, uma fronteira de cerca de 2 mil quilômetros com a Venezuela. Tudo bem que o acesso não é um acesso fácil, você tem basicamente a região de Paracaima para conseguir essa passagem de um país para o outro, mas tende a trazer consequências bastante grandes, bastante severas para o Brasil", pondera.

O Brasil é a maior potência militar da América Latina?

Para o professor Tanguy Baghdadi, o resultado do ranking divulgado pelo Global Firepower é questionável.

"É importante lembrar também que foi feito esse estudo aí — que o Brasil é a maior potência militar da região — mas não que o Brasil tenha forças armadas lá muito bem equipadas. A gente tem um orçamento militar grande e tudo, mas não sei quanto que o Brasil está disposto e preparado para uma guerra que pode se prolongar por bastante tempo", explica.

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Para ele, alguns dos critérios não são suficientes para garantir os resultados apresentados no levantamento.

Um dos critérios utilizados pelo ranking foi o desempenho dos países na 1ª e na 2ª Guerra Mundial. Para o pesquisador o tempo decorrido desde o fim destes conflitos diminui a importância do critério. Da mesma forma ele aponta que as operações de paz das quais o Brasil participou nesse meio tempo não são grande parâmetro para um conflito armado.

"Operação de paz é uma coisa, conflito armado é outra. Exatamente por isso, aliás, que eu vejo uma reticência muito grande, sobretudo por parte dos generais brasileiros, mesmo aqueles que estão no primeiro escalão do governo Bolsonaro, muito reticentes a participarem em qualquer tipo de conflito porque sabem que isso é um buraco sem fundo", questiona o professor.

Venezuela tem parceiros poderosos

O professor Baghdadi se recorda que a Venezuela tem recebido equipamentos de origem russa nos últimos anos. Esse fato, segundo ele, é parte de um esforço permanente do país para ter uma força militar poderosa.

"É um país, por exemplo, que nos últimos anos tem recebido ajuda russa, que comprou armamento russo, é um país que vem investindo bastante nas suas forças armadas. Isso não é de hoje. O governo Chávez já fazia, os governos anteriores ao Chávez também fizeram. O Maduro chegou, inclusive, a usar isso como moeda de troca para conseguir apoio dos setores militares na manutenção do seu governo. Então naturalmente se a gente for pegar o o histórico o Brasil naturalmente está na frente. Se a gente for pegar em termos brutos o Brasil tem um orçamento maior, mas o Brasil é um país muito maior também. O Brasil tem muito mais a defender do que a Venezuela", detalha o professor.

Ele lembra ainda que nesse processo a Venezuela não fez parceria apenas com Rússia, mas também com a China. As duas parcerias vem sendo lembradas pela mídia na discussão do conflito em oposição aos Estados Unidos. Porém, Baghdadi lembra outro parceiro poderoso alinhado com as forças de Nicolás Maduro.

"A gente pode incluir aí mais um país que vem sendo bastante próximo da Venezuela, não apenas a Rússia e a China, que já falam por si só, já são importantes o suficiente. Mas a gente tem a Turquia também, então tem que lembrar da importância da Turquia que é o segundo maior exército da OTAN. Você tem os Estados Unidos e depois vem a Turquia, então é um exército poderoso, não é um exército de segunda linha, é um exército importante", aponta o professor.

O pesquisador ainda explica que o abalo nas relações entre Maduro e os militares venezuelanos pode ser solucionado em caso de um conflito externo. Isso porque as forças armadas tem como função a defesa de um país e, segundo ele, se alinhariam ao governo imediatamente para defender a Venezuela em caso de invasão externa.

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