Em entrevista à Sputnik Brasil, o vice-presidente do Comitê Científico sobre Pesquisa Antártica, Jefferson Simões, principal glaciologista do país, disse que a expectativa dos cientistas é que os trabalhos na unidade se iniciassem apenas no próximo ano, quando deverá ser inaugurada a unidade.
“Nós, da comunidade científica, esperamos que no ano que vem deva entrar equipamentos científicos na estação, já com alguns laboratórios, inclusive um da Fiocruz que deve montar um laboratório completo. A partir de então, as pesquisas voltam para dentro da estação, mas é bom esclarecer que apenas 25% da pesquisa antártica brasileira é feita e retornará a ser feita na Estação Antártica Comandante Ferraz”, explica.
Em nota, a Marinha do Brasil anunciou, no entanto, que o início das atividades de pesquisa na unidade, projetada para atender até 64 pessoas simultaneamente, deve começar ainda em outubro de 2019, no início do verão antártico.
Segundo a armada, o cronograma prevê que após a conclusão das obras civis e instalação do maquinário e mobiliário contratado até o final deste mês, a estação passará por um período de testes até a inauguração.
“A partir desta data (31 de março), será conduzido o comissionamento, que é o processo de assegurar que os sistemas e componentes de uma edificação estejam instalados e testados de acordo com as necessidades e requisitos operacionais do projeto. Após todos esses passos, ocorrerá o recebimento e a ocupação definitiva da EACF, em data a ser definida no próximo verão”, diz a nota.
O Brasil é o sétimo país mais próximo da Antártica e sofre influência direta dos fenômenos naturais que ocorrem no continente. O professor Jefferson Simões destaca que esse é apenas um dos fatores que fazem com que o Brasil e outras nações mantenham bases no continente.
“Uma estação antártica tem dois componentes internacionais em seu significado. Um é o significado geopolítico, é uma demonstração do interesse político no futuro de cerca de 7% do planeta Terra. São quase 36 milhões de km² que são geridos pelo Sistema do Tratado da Antártica (STA) e para isso o Brasil precisa ter um programa de pesquisa científica continuado. A estação não só dá o apoio a pesquisa, mas é a nossa casa naquela região. Por outro lado, é claro, nós queremos fazer uma ciência de qualidade, cada vez mais voltada para o meio-ambiente e que resulte em algo proveitoso para a sociedade brasileira”, enfatiza Simões.
O Brasil aderiu em 1975 ao STA. Atualmente, o acordo conta com 30 países como membros consultivos. Todos possuem pelo menos uma estação de pesquisa na região. A reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz permite ao Brasil a manutenção do status de membro consultivo do STA, com capacidade de discutir e se fazer presente nas decisões do futuro da Antártica.
A Marinha do Brasil ainda destacou por meio de nota que existem grandes reservas de recursos minerais ainda não explorados na região, comentando a importância da manutenção de uma base na Antártica.
“[Existem] cerca de 176 tipos de minerais já mapeados (ouro, prata, ferro, gás natural, etc.), capazes de atender a economia mundial por 200 anos. Tais recursos podem vir a ser explorados a partir de 2048, quando as partes consultivas ao STA (Sistema do Tratado da Antártica) irão se reunir para definir, novamente, o futuro do continente. O Continente Antártico possui a maior reserva de água doce do planeta, o que tem despertado o interesse de algumas nações ricas em petróleo e pobres em água potável, com projetos que possibilitem o transporte de blocos de gelo para extração de água doce nos locais carentes desse recurso”, destaca a Armada.
A nova estação
A nova estrutura possui uma área de aproximadamente 4.500 m² dividida em seis setores distintos: privativo, social, serviços, operação/manutenção, laboratórios e módulos isolados. Ao todo, a área de laboratórios que será usada pelos cientistas brasileiros terá 17 unidades atendendo uma multiplicidade de exigências para as atividades científicas.
Um das mudanças que favorecerá a pesquisa é a instalação de laboratórios com equipamentos de telecomunicação, que permitirá aos pesquisadores enviar dados e se comunicar com laboratórios no Brasil.
Após o incêndio que destruiu 70% da unidade em 2012, a Marinha ressaltou que nova estação “será dotada de um sistema de controle de avarias e alarme de incêndio moderno que possibilitará o monitoramento contínuo das condições de segurança de todos os seus compartimentos, além de estar coberta por sistemas fixos de combate a incêndio do tipo sprinkler (chuveiro automático) e por gás NOVEC (utilizado nos setores vitais da estação)”.
Todos os ambientes da nova EACF são separados por portas corta-fogo e são revestidos por paredes com materiais especiais resistentes a chamas. A unidade também possui diversas rotas de escape em caso de sinistros, permitindo a rápida evacuação dos compartimentos em caso de necessidade.