De acordo com o último relatório de monitoramento dos fluxos de Investimento estrangeiro direto (OFDI), os investimentos chineses nos países da América Latina e do Caribe (ALC) vêm crescendo constantemente desde 2000, apesar de ter sofrido uma ligeira queda nos últimos dois anos.
Embora os investimentos chineses em países maiores, incluindo Brasil e Argentina, tenham caído em 2018, Pequim começou a se concentrar mais na construção de laços com outros países da ALC, como o Peru e o Chile, que foram responsáveis por 63,03% e 16,31%, respectivamente, desses investimentos em 2018.
Segundo analistas, Pequim aproveitou a oportunidade para preencher o vazio deixado na América Latina pela política "America First" da administração Trump.
"Com Trump focando em 'Tornar a América Grande De Novo', eles [os investidores americanos] regressaram e deixaram espaço na América Latina. A reação dos chineses no último ano e meio foi que eles se tornaram muito mais agressivos e perceberam que há espaço para o governo chinês e empresas chinesas jogarem na América Latina", disse o especialista chileno Ignacio Tornero.
No entanto, devido à crescente rivalidade geopolítica global sino-americana, o analista chileno espera que Washington responda fortemente à crescente influência de Pequim na região latino-americana, que muitas vezes é considerada como o quintal dos EUA.
"Acho que eles [EUA] percebem que a China é uma enorme ameaça do ponto de vista geopolítico e econômico […] Se não reagirem em breve, os chineses continuarão a aproveitar-se disso. Acho que os Estados Unidos tentarão alavancar sua proximidade geográfica e sua influência nas regiões da ALC para bloquear a expansão da China", afirmou Tornero.
"A China apresenta hoje uma ampla iniciativa [a BRI] e muitos instrumentos específicos para a cooperação com a ALC, ao contrário de uma abordagem minimalista da administração Trump", ressaltou o analista mexicano Enrique Dussel Peters.
O novo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, tem sido muito crítico sobre a expansão da China no país durante sua campanha eleitoral presidencial no ano passado. Com o político de direita no poder, os investimentos chineses podem enfrentar um crescente escrutínio no Brasil.
Para Peters, os políticos latino-americanos, que foram críticos em relação à China durante as campanhas eleitorais, provavelmente adotarão uma abordagem mais pragmática ao lidar com Pequim após a posse.
"Vários governos recém-eleitos na Argentina, Chile, El Salvador e Brasil, entre outros, foram inicialmente críticos em relação à China e destacaram as diferenças com os governos anteriores em seus respectivos países. No entanto, e até agora, todos esses novos governos descobriram que a China é muito importante — na maioria dos casos, o mais importante — em termos de demanda de suas respectivas exportações. Eles tiveram que diminuir suas expectativas e continuaram com uma relação bastante normal com a China", concluiu o analista.
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