O decano da Faculdade de Ciências Econômicas e Sociais da Academia Russa de Economia e Serviço Público, Aleksandr Chichin, comentou ao serviço russo da Rádio Sputnik os cem primeiros dias de governo de Bolsonaro no que se refere às mudanças na política externa.
"Aproveitando-se da orientação de Bolsonaro [relativa a Washington], os EUA estão o envolvendo na esfera militar. As palavras de Trump sobre considerar a possibilidade de o Brasil se tornar membro da OTAN também não surgiram por acaso. Trata-se de atribuir ao Brasil o estatuto de parceiro estratégico da OTAN. Isso não significa pertença à OTAN, mas está bem perto disso", revelou ele.
Segundo Chichin, essa estratégia de Washington poderia privar o Brasil das ambições de se tornar líder na América Latina.
O especialista comentou também as relações do Brasil com outros países em meio ao rumo político de Bolsonaro.
"A política dos EUA em relação ao Brasil é retirá-lo do BRICS [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], expulsar a China do Brasil e, em geral, Bolsonaro está seguindo essas diretrizes, é evidente que ele esteve prosseguindo na esteira do rumo político dos EUA durante seus primeiros 100 dias no poder", explicou Chichin.
"Nos últimos 20 anos foi a China que se tornou inesperadamente no maior exportador e importador do Brasil, e não os EUA. Agora, a estratégia dos EUA é expulsar a China do Brasil, Bolsonaro faz isso, pressiona a China mesmo no sentido político", opinou o especialista.
Quanto à situação na Venezuela, o analista sublinha que Bolsonaro fez declarações contraditórias em relação a esse assunto (desde apelos para não se intervir nos assuntos internos de Caracas até possíveis consultas com o Congresso sobre a possível participação de uma invasão), mas em geral ele está alinhado com o Departamento de Estado dos EUA.
"Quando [os EUA] declaram que sufocariam Maduro através de meios econômicos, ele [Bolsonaro] diz que isso é o bastante. Quando Trump diz que todas as cartas estão na mesa, ele diz que avalia todas as oportunidades. Isso já ocorreu cerca de quatro vezes. Ele fala que está pronto para a participação de uma intervenção militar e depois diz que tudo isso levaria a uma grave guerra civil", afirmou Chichin.
"[Bolsonaro] continua se buscando como presidente, mas pode se tornar iniciador de uma intervenção militar [na Venezuela]", concluiu ele.