Ainda durante a campanha, Bolsonaro prometeu seguir a iniciativa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prestigiou a posse de Bolsonaro em Brasília, mas viu a proposta murchar quando o presidente mudou sua promessa durante visita a Israel. A embaixada deu lugar a promessa de um escritório comercial, sem data definida.
O reconhecimento de Jerusalém como capital israelense é uma medida controversa. Tanto Israel quanto Palestina reclamam a cidade como capital e a Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda que o status da cidade deve ser decidido em negociações entre israelenses e palestinos.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Mortean ressalta que o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, é uma pessoa conservadora e "fundamentalista em alguns aspectos ideológicos". O especialista em Oriente Médio ressalta que o Brasil hoje está quebrando sua tradição de não intervir em assuntos de outros países.
"Somos um país que recebe grandes aportes de investimentos estrangeiros, o que não tem acontecido desde a eleição deste governo, isso prejudica a economia. Certas posições ideológicas que se parecem equivocadas do ponto de vista comercial têm minado até a base política do próprio governo", diz Mortean sobre a relação do Bolsonaro com os ruralistas.
Antes do primeiro turno das eleições, em 2018, a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) declarou apoio ao candidato Bolsonaro por meio da então presidente da entidade, Tereza Cristina. A FPA é uma das bancadas mais poderosas do Congresso e Cristina assumiu o posto de ministra da Agricultura na gestão do presidente do PSL.
Apesar da proximidade ideológica entre Bolsonaro e Netanyahu, os árabes têm um peso bilhões de dólares maior com o Brasil, principalmente no agronegócio.
Levantamento da revista piauí mostra que o Brasil tem déficit de US$ 848 milhões de com Israel e superávit de US$ 3,8 bilhões com os 22 países da Liga Árabe. Os principais produtos vendidos para a região são agrícolas, como soja e carne bovina.
"Uma coisa é o Trump jogar no Oriente Médio de acordo com seus interesses porque a balança comercial dos EUA com a região não é tão desfavorável assim, e a dependência norte-americana do petróleo daquela região faz com que os árabes não se voltem contra Washington, mesmo que Washington tome medidas e políticas pró-Israel. Já não é o nosso caso", diz Mortean.