As tensões entre Washington e Teerã têm aumentado desde que Donald Trump assumiu a presidência dos EUA, mas nos últimos tempos o conflito se agravou ainda mais. Os americanos anunciaram o fim das isenções de sanções por compra do petróleo iraniano concedidas a vários países em 2018, bem como enviaram o grupo de ataque do porta-aviões USS Abraham Lincoln e bombardeiros estratégicos B-52 para a região com o objetivo de enviar "uma mensagem clara e inequívoca" a Teerã.
Vale ressaltar que a mídia informou também que o secretário interino de Defesa dos EUA, Patrick Shanahan, apresentou à Casa Branca um plano de enviar até 120 mil militares americanos para o Oriente Médio em caso de o Irã decidir acelerar o desenvolvimento nuclear ou atacar as forças norte-americanas na região. Embora o próprio Trump tenha negado que os EUA estejam se preparando para enviar soldados americanos à região, os relatos provocaram inúmeras especulações sobre as consequências desse conflito.
Quanto à postura do Irã, o presidente iraniano Hassan Rouhani anunciou que seu país está enfrentando uma "guerra total" devido às sanções americanas.
Em resposta às ações hostis dos EUA, Teerã anunciou que deixaria de observar alguns dos seus compromissos no âmbito do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA na sigla em inglês) sobre o programa nuclear iraniano, que os EUA abandonaram já em maio de 2018. Por exemplo, Teerã indicou que interromperia as modificações no reator da usina nuclear de Arak, que impedem a produção de plutônio para uso militar. Além disso, as autoridades iranianas têm declarado reiteradamente que Teerã não se envolverá em nenhuma negociação sobre a assinatura de um novo acordo nuclear com Washington porque "tais negociações são um veneno".
Comentando as possíveis ações militares em resposta ao envio das forças americanas ao golfo Pérsico, um comandante sênior do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica do Irã, Amirali Hajizadeh, afirmou que isso é uma boa oportunidade, porque "se os americanos fizerem um movimento, vamos atingi-los na cabeça".
"A República Islâmica do Irã não foi nem será a iniciadora da guerra, mas as Forças Armadas do país estão mais fortes do que nunca e determinadas a resistir às conspirações dos inimigos. Os Estados Unidos e seus aliados estão muito conscientes disso", declarou uma fonte nas Forças Armadas iranianas.
À beira de um conflito de grande escala?
O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, anunciou que, apesar de todas as tensões, os EUA e o Irã não se envolverão em um conflito militar.
"Nós não buscamos uma guerra, e eles também não", disse recentemente o líder supremo, insistindo que os norte-americanos estão bem cientes de que um confronto militar com o Irã "não é do interesse deles".
O Oriente Médio agora vive uma série de conflitos que o tornaram em uma das zonas mais "quentes" no mapa global, com conflitos na Síria, Iraque, Iêmen e Afeganistão, e por isso Trump deve ponderar cuidadosamente suas ações no Irã, comentou à Sputnik Brasil o cientista político e especialista em assuntos do Oriente Médio, Mais Kurbanov.
"Todo o mundo está preocupado com o conflito no Oriente Médio porque é uma situação séria raramente vista na história da humanidade. Trump está dando passos impensados que se voltariam contra ele, como já vimos na Coreia do Norte e em outros continentes. Ele já provocou o agravamento da situação no Oriente Médio, de fato, atualmente sua política na região não é bem-sucedida", disse Kurbanov.
Para o analista, "é tarde demais para fazer guerra com o Irã. Em tempos, eles poderiam ter feito isso, mas agora essa oportunidade, oportunidade de possível vitória sobre o Irã, é perdida. Seus navios podem chegar [ao golfo Pérsico], mas depois voltarão aos EUA sem causar nenhuns dados ao Irã".
"Acredito que Trump abandonará o Irã da mesma forma vergonhosa como abandonou a Coreia do Norte, sem atingir seus objetivos. Depois disso, todo o mundo entenderá que os americanos não são um exército lendário e invulnerável e que os Estados devem seguir seus próprios interesses e sua própria política. Em meio ao fortalecimento da Rússia e da China, o mundo unipolar já não existe", revelou Kurbanov.
"Como resultado, esse conflito será favorável ao Irã e todos vão testemunhar isso em breve", opina ele, sublinhando que um conflito de grande escala com o Irã é pouco provável.
Entretanto, o Oriente Médio vai continuar permanecendo uma região que está à beira do conflito.
"Os Estados da região estão colocados uns contra os outros de modo agressivo porque não veem uma solução pacífica para esse conflito, entendem que é necessário fortalecer suas forças para, se for necessário, confrontar seus inimigos. Se isso continuar, levará a um conflito em grande escala no Oriente Médio do qual participarão os EUA e outros grandes países de várias partes do mundo. Por isso, apesar de todas as dificuldades, é necessário encontrar uma solução pacifica para essa crise", concluiu o cientista político.