A concentração pelo ato iniciou-se às 10h da manhã e no ápice, a manifestação chegou a ocupar as duas pistas da avenida, ao longo de sete quarteirões do bairro na zona sul carioca. Manifestantes se agrupavam sobretudo em torno de carros de som nos postos 4 e 5 e de lá gritavam palavras de ordem a favor do presidente e contra congressistas e ministros do Supremo.
Enquanto em um posto, a ativista e autodeclarada "ex-feminista" Sara Winter fazia um discurso contrário ao aborto e às "atrizes globais que saíram peladas em manifestações do 'Ele Não'", em outro um grupo levantava bandeiras das mais diversas: do fechamento do Supremo Tribunal Federal, passando por críticas ao Movimento Brasil Livre (que rompeu com o governo nesta última semana), o preço da anualidade da OAB e comparações do cenário nacional com países tão distintos quanto a Síria, o Líbano e a Turquia.
Na praia desde as 9h, quando esticou uma bandeira do Brasil no asfalto e começou a vender faixas e camisetas verde e amarelo por preços a partir de R$30, a ambulante Monique da Conceição Santos, 30 anos, disse que tinha se deslocado a Copacabana tanto para trabalhar quanto para protestar. Ela, que conta ter votado em Jair Bolsonaro apenas no 2º turno, afirma ter ouvido "que o povo tá revoltado mesmo com esse negócio de Supremo", mas não sabia exatamente pelo quê. Monique, porém, é rápida ao dar sua opinião sobre outro tema: a reforma da previdência.
"Votei no Bolsonaro por um país melhor, mas sou contra a reforma da previdência. É mais tempo [trabalhando] né? Se aprovar, fica horrível pra gente, meu apoio [ao presidente Jair Bolsonaro] vai a zero", dispara.
"Quem sempre comeu uma beiradinha não deixa ele governar"
A estilista Diana de Paula, 49 anos, mora em Copacabana e cuida da mãe idosa e de uma irmã com deficiência. No domingo, usando uma camisa preta com a estampa "Bolsonaro Presidente", ela comercializava modelos semelhantes por R$30, enquanto posava para fotos e gritava palavras de ordem.
"A gente precisa de crianças que saibam a matemática, que saibam ler e escrever. Se a gente ficar nesse papinho de homofobia, de racismo, a gente não anda. Para mim isso é coisa do governo anterior, muito mais preocupado em fazer novela mexicana que governar este país", diz ela, que é descendente de alemães e casada com um eslovaco.
O professor universitário Marco Antônio modera o discurso. Ele chegou a Copacabana acompanhado da esposa, do filho de 4 anos e do enteado de 13 para "mostrar apoio ao governo do presidente" e aos princípios que o convenceram a votar em Jair Bolsonaro: o combate à corrupção, a diferenciação de gêneros e o projeto Escola Sem Partido.
"O Congresso está fazendo o seu trabalho, de acordo com o que pensam, mas nós não concordamos com o que eles produzem. Democracia é assim. (…) Viemos não para protestar contra uma pessoa ou instituição em específico, mas porque é importante para os nossos filhos entenderem que cidadania a gente não faz em casa e sim nas ruas, mostrando o que a gente pensa e o que a gente apoia", defende, fazendo ressalvas sobre a reforma da previdência (diz não ser a favor da mudança no tempo de contribuições para professores).
Reação do governo
Endossar (ou não) as manifestações convocadas para este domingo foi ponto de divergência dentro da base governista ao longo de toda a semana em Brasília.
Deputados aliados temiam que apoiar atos abertamente contrários a figuras de articulação importantes no Congresso e à autoridade do STF poderia representar problemas para aprovação da reforma da Previdência.
"É uma manifestação espontânea. Com uma pauta definida, com respeito às leis e às instituições, mas com o propósito de dar recado àqueles que teimam com velhas práticas não deixar que esse povo se liberte", afirmou.
A hashtag #BrasilNasRuas ficou nos trending topics ao longo da maior parte do dia. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, do Senado, Davi Alcolumbre e do STF, Dias Toffoli ainda não se pronunciaram sobre a questão.