O governo tenta mediar negociações entre os profissionais e os patrões para evitar prejuízos em diversos setores, como abastecimento de combustíveis e alimentos. As articulações preventivas já foram iniciadas. "Está sendo feito um trabalho com a Confederação dos Agricultores de Portugal para que haja uma estratégia realmente prioritária para o setor agrícola caso esta greve avance, que esperamos que não", diz à Sputnik Brasil Gonçalo Andrade, presidente da Portugal Fresh (Associação para a Promoção das Frutas, Legumes e Flores de Portugal).
A entidade estima prejuízo de 21 milhões de euros por dia caso a colheita de produtos tenha que ser interrompida pela falta de transporte, com desperdício de alimentos, que vão estragar nas plantações, perda de clientes e com a população do país "fortemente afetada".
"Agosto é uma época crítica e capital para a maioria das colheitas dos produtos do nosso setor, não só de tomates para a indústria, mas da pera rocha, maçã, uvas, melões, melancias, pêssego, nectarina, batatas. Ou seja, a diversidade é muito grande. Estimamos que este período de colheita represente 23% do total anual. Tipicamente no mês de agosto, com temperaturas que são consideradas relativamente elevadas, há produtos que não podem aguentar quatro ou cinco dias a mais no terreno", afirma o presidente da Portugal Fresh.
De acordo com Anacleto Rodrigues, porta-voz do Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), uma das entidades que convocam a paralisação, "tudo o que é transportado em cima de um caminhão será afetado, seguramente".
"Dentro dos 50 mil motoristas do país, pelas notícias que nos chegam, serão uns bons milhares que irão aderir logo nas primeiras horas da greve", declara Anacleto Rodrigues à Sputnik Brasil.
Quem também adere ao movimento são os membros do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), profissionais que transportam, por exemplo, produtos químicos tóxicos e combustíveis. A categoria já vem reivindicando melhorias trabalhistas desde o mês de abril, quando fez uma greve de três dias que causou desabastecimento em postos de todo o país.
Para evitar os mesmos transtornos agora, a Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (APETRO) começou uma articulação entre toda a rede. "O que temos feito para mitigar é não só a criação de um sistema de comunicação correto entre os pontos de carga e descarga, é também um planejamento de entregas de produtos de maneira a que o estoque nos postos esteja o mais alto possível no início da greve. O que se pede ao cidadão é que não vá correr no dia 11 por combustível, que é um domingo, e abasteça ao longo dessa semana", diz à Sputnik Brasil o assessor de comunicação da entidade, João Reis.
Reivindicações e impasse
Esta semana tem sido de reuniões para análise da situação. Representantes do dois sindicatos que convocam a greve foram recebidos pelo ministro das Infraestruturas e Habitação de Portugal, Pedro Nuno Santos.
Tanto os motoristas que transportam mercadorias quanto os das chamadas "matérias perigosas" reivindicam aumentos salariais, fim do exercício de funções extras, como carga e descarga, e readequação de horas para trabalho e descanso.
Já de acordo com Anacleto Rodrigues, do SIMM, o contrato coletivo de trabalho entre a categoria e a Associação Nacional de Transportadores Públicos Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), que representa os patrões, vigente desde outubro do ano passado, desrespeita a própria lei portuguesa.
"Não queremos causar danos ao país e a população em geral. Queremos ser ouvidos, queremos que a nossa relação laboral seja mais justa, não só para nós, mas para as duas partes. Temos o direito e o dever de trabalhar, estar ao serviço da nossa entidade patronal, mas não nos podem retirar o direito à família, à vida social, e o que eles querem fazer neste momento é obrigar-nos a trabalhar 13, 15 horas por dia, em 25, 26 dias por mês e isso não está correto", defende o porta-voz.
A associação das empresas rebate as declarações dos caminhoneiros e classifica a convocatória para a greve como um ato de "chantagem e deslealdade" que rompe com um acordo estabelecido no mês maio, após a primeira paralisação dos caminhoneiros que transportam produtos perigosos. As negociações deste acordo seguem com outros sindicatos. "Acreditamos que eles (os grevistas) não querem estar presentes, já que rasgaram o documento de 17 de maio", afirmou o advogado André Matias de Almeida, porta-voz da ANTRAM, ao final da reunião com o ministro das Infraestruturas e Habitação.
O ministro Pedro Nuno Santos disse que foi estabelecida a criação de um grupo de trabalho com diversas entidades que apresentará, em 90 dias, propostas de melhorias para as condições laborais dos caminhoneiros. Em paralelo, declarou que o governo continua se preparando para a greve.
"Serão decretados os serviços mínimos, uma vez que as partes não chegaram a um acordo, que tentarão acautelar as questões mais fundamentais das nossas vidas. Temos tudo programado para estar à altura de uma dificuldade que é uma greve como esta. No entanto, até o dia 12, esperamos que os sindicatos que entregaram o aviso possam cancelar e regressar, através de mecanismos que o código de trabalho permite, às negociações", afirmou o ministro.
Os trabalhadores dos dois sindicatos que convocam a paralisação se reúnem em assembleia no próximo sábado, dia 10, quando vão deliberar sobre as propostas. Será a última oportunidade para o cancelamento da greve e retomada das negociações.