Em uma entrevista à Sputnik, dedicada à memória do fotojornalista da agência internacional de notícias Rossiya Segodnya, falecido durante os combates no leste da Ucrânia em 6 de agosto de 2014, ela contou que tem a tradição de visitar o túmulo do filho três vezes por ano.
"Visito-o em dezembro no aniversário dele, em abril, que foi quando vi Andrei pela última vez [...] e em 6 de agosto, no dia da morte", disse.
Vera Stenina revelou que não sabia que o filho resolveu trabalhar como fotojornalista em locais perigosos.
"Eu não sabia. Nós conversávamos pouco pelo celular. Ele não era o primeiro a ligar, mas eu precisava ouvir ao menos uma palavra. Eu perguntava-lhe sobre o tempo e sobre a saúde dele. Pela voz eu percebia que tudo estava bem, ou seja, ele não falava muito. Ele estava muito contente por conseguir o emprego na Sputnik. Depois não ligou por muito tempo […] Depois eu mesma liguei e ele disse que estava na Síria. 'Meu Deus! Meu filho está na Síria.' Eu não sabia. Então eu fiquei sabendo que ele viajava", contou Vera Stenina.
De acordo com Stenina, quando o filho foi para a Ucrânia, ela como que pressentiu que algo ruim podia ocorrer ali. Ela contou que, antes de partir pela última vez, o filho deu-lhe de presente um notebook. Através do dispositivo a mulher podia ver as fotos tiradas por ele, e assim sabia que ele estava bem.
"No dia 17 de julho eu liguei para ele. Ele estava muito alegre, contou-me como se instalou em um dormitório. Segundo eu percebi, isso aconteceu em [cidade de] Slavyansk”, disse.
Quando Andrei desapareceu
"Depois chegou julho [...] Tive a sensação que eu não estava viva, havia um vazio dentro de mim. No dia 6 de agosto a minha irmã me ligou. Era muito cedo, acho que às cinco da manhã. Nadia [irmã] me disse que viu [na TV] legendas sobre o jornalista desaparecido Andrei Stenin. Então eu liguei a TV e fiquei sabendo as notícias. Não consegui telefonar por muito tempo. Eu só parti no dia 18 [de agosto a Moscou]. Todos aqueles dias eu me senti como um bicho na jaula. Eu não dormi, a TV estava ligada o tempo todo. E aquela música perturbadora, os comunicados que ele estava sendo procurado, e a fotografia dele", recorda.
De acordo com Vera Stenina, depois ela junto com a sobrinha voou para Moscou, onde elas foram recebidas e instaladas pelos funcionários da agência onde o filho dela trabalhava. Posteriormente, as mulheres passaram ali quase um mês.
"Depois me ligou Dmitry Kiselev [diretor-geral da MIA Rossiya Segodnya] e disse que ele tinha sido encontrado. Primeiro havia 60% de coincidência [de dados], depois disseram que já havia certeza", recordou.
"Recebi apoio, claro, eu agradeço à MIA Rossiya Segodnya, a seus funcionários, eles me apoiaram muito", disse a mulher.
Depois da morte
A mãe do jornalista falecido recordou também que, depois da morte do filho, ela foi visitar o memorial colocado em homenagem a ele na região de Donbass, na cidade de Snezhnoe.
"É uma cidade muito fechada devido ao bloqueio ou ao cerco, nem sei como chamar. Fiquei com muita pena daquelas pessoas [moradores locais]. Gostei muito da cidade, é muito limpa. Mesmo depois dos bombardeios, eles a limpam muito rápido", compartilhou Vera Stenina.
A mulher disse que visitou uma escola nomeada em memória de seu filho, ouviu os alunos recitando versos sobre ele. Dentro da escola ela viu mesmo uma sala-museu dedicada a Andrei Stenin e a dois outros jornalistas que morreram com ele.
"Em seguida fomos ao local da morte de Andrei [...] Ali há um monumento, por enquanto é de madeira. Eles [moradores locais] querem instalar um bom monumento. Gostaria que me avisassem, quero poder ajudar. Plantamos bétulas, duas fileiras delas levando ao [túmulo de] Andrei."
"O local da morte. É difícil imaginar o que aconteceu ali [...] Quando nos aproximamos do local da morte, entendemos que de verdade não tinha como se esconder. Há estepe por todos os lados, não há como se esconder", comentou.
"Eu tenho notado que muitos jovens morrem na idade de Cristo. Andrei também tinha 33 anos e meio. Sabem, eu me dirijo a ele como a um ícone. Ele me ajuda. Quando eu estive lá, em frente ao túmulo, pensei: 'É tudo, Andrei, eu deixo você ir.' Há cinco anos eu queria me encontrar [com ele], eu o encontrei. Eu estive em Donbass. Mas não tem como me tirar o meu filho. Isso está tudo comigo, até o fim", disse.
"Sabem, eu me esforcei. Queria tanto não chorar, mas as lágrimas estão prestes a cair."