Apesar das declarações de que as operações americanas na Síria estavam focadas no combate ao Daesh (grupo terrorista banido na Rússia e em muitos outros países) e não no envolvimento na guerra civil, os EUA não conseguiram evitar isso. A escolha dos Estados Unidos de continuar apoiando os combatentes curdos significou que os EUA não poderiam mais permanecer como um espetador no conflito sírio.
Embora as Forças Democráticas da Síria (FDS) não tenham inteligência "formal" para compartilhar, "elas terão conhecimento interno sobre alguns indivíduos, procedimentos operacionais ou tempos de resposta das aeronaves", disse um ex-responsável oficial da Defesa, citado pelo portal Military Times.
"Elas podem ser coagidas. Eu não acho que elas [FDS] vão gostar, mas podem estar em modo de sobrevivência e precisarão fazer acordos com maus atores", disse o funcionário.
A nova parceria para os combatentes curdos pode ser uma bonança de inteligência para a Rússia e a Síria, já que as FDS apoiadas pelos EUA passaram anos trabalhando ao lado de comandos americanos avaliando táticas, técnicas, procedimentos, equipamentos, coleta de informações e até mesmo nomes potenciais de operadores. Além disso, os americanos ajudaram a criar a unidade antiterrorista curda Yekineyen para combater o Daesh, que recebeu armamento e equipamento de visão noturna americano.
Tipos de vazamento
Embora as tropas norte-americanas tenham frequentemente descrito seus parceiros das FDS como competentes e leais, existe agora um risco real de conhecimentos técnicos e informações pessoais das forças especiais dos EUA chegarem às mãos de russos e sírios. Um antigo operador de inteligência militar dos EUA declarou que o potencial de propagação de informações ou métodos sensíveis por parte das FDS era "super problemático", mas também um sintoma da falta de uma estratégia genuína na região.
"A divulgação desta informação coloca as SOF [forças de operações especiais] em grande risco e remove seu foco na missão se eles sabem que o inimigo pode ter como alvo a família deles em casa", disse ao Military Times o aposentado major fuzileiro naval Fred Galvin, ex-comandante de missões de reconhecimento e incursões que serviu no Afeganistão.
Às vezes, as forças de operações especiais podem trabalhar com forças parceiras usando nomes falsos, especialmente se houver uma ameaça interna, explicou Galvin.
"As SOF têm tentado mitigá-la, eles sempre o fazem, mas simplesmente nunca antes tivemos uma força desertando completamente para seus oponentes desta forma", disse o ex-oficial.
Saída dos EUA
Se acreditarmos no funcionário da Defesa anônimo dos EUA, porém, a questão não é mais preocupante do que quando as forças de operações especiais destacadas para África há algumas décadas tiveram de enfrentar uma mudança de lealdade de forças parceiras no continente.
"Precisamos de nos perguntar: 'Deveríamos estar a comprometer forças para trabalhar com uma força parceira nacional sem uma verdadeira estratégia funcional na área?'", disse o antigo funcionário da inteligência.
"Sem uma verdadeira estratégia nacional para a região vamos continuar a lutar contra questões como a mudança de lealdades e a exposição das nossas SOF e forças convencionais que trabalham em parceria com outras forças para se comprometerem com os nossos adversários mais próximos", disse ele.
O presidente dos EUA, Donald Trump, finalmente pôs algumas dessas noções de lado na segunda-feira, 7 de outubro, quando anunciou a retirada das tropas da Síria (apesar de um pequeno punhado de comandos americanos permanecerem na guarnição de al-Tanf). O secretário de Defesa, Mark Esper, concordou com a ação usando a justificação da falta de existência de uma estratégia na Síria.