Após 12 dias de viagem, o que Bolsonaro traz na bagagem de volta ao Brasil?

© REUTERS / SATISH KUMARO presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, no Fórum de Negócios Emirados Árabes Unidos-Brasil, em Abu Dhabi, Emirados Árabes, em 27 de outubro de 2019
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, no Fórum de Negócios Emirados Árabes Unidos-Brasil, em Abu Dhabi, Emirados Árabes, em 27 de outubro de 2019 - Sputnik Brasil
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Jair Bolsonaro terminou nesta quinta-feira (31) sua jornada de quase duas semanas por países da Ásia e do Oriente Médio. A Sputnik explica como o presidente se saiu durante a viagem internacional mais longa desde que assumiu o mandato.

O roteiro de Bolsonaro incluiu cinco países: Japão, China, Emirados Árabes, Catar e Arábia Saudita.

Segundo o governo, o giro pela Ásia e Oriente Médio tinha o objetivo de intensificar relações com países das regiões e de divulgar oportunidades de investimentos no Brasil.

A comitiva oficial do presidente durante a viagem contou com 20 integrantes, entre os quais, assessores, parlamentares, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), e seis ministros: Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Tereza Cristina (Agricultura), Osmar Terra (Cidadania), Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).

Bolsonaro desfaz mal-estar com China e aproxima Japão com Mercosul

A primeira parada de Bolsonaro foi o Japão. No primeiro evento oficial, a cerimônia de entronização do imperador japonês Naruhito, Bolsonaro se vestiu com sete condecorações e a faixa presidencial.

​A passagem pelo Japão resultou em um avanço para viabilizar o acordo comercial entre o Mercosul e o país asiático. Segundo Bolsonaro, o início das negociações será formalizado em novembro, quando o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, vem ao Brasil.

“Demos mais um passo na questão (do acordo) do Mercosul. Há interesse por parte dele (Abe) também”, declarou Bolsonaro.

Para Alexandre Uehara, coordenador acadêmico do Centro Brasileiro de Estudos de Negócios Internacionais e Diplomacia Corporativa da faculdade ESPM, se concretizado, o acordo permite que o Brasil concorra com países que possuem acordos de isenções fiscais com o Japão.

“Os países que já têm acordo com o Japão conseguem exportar para o Japão com tarifas reduzidas ou com menos tarifas. Quando o Brasil deixa de ter um acordo com o Japão, o Brasil concorre com esses países, como é o caso da Tailândia, que consegue exportar a um valor 7% mais barato do que o Brasil”, disse à Sputnik Brasil.

A segunda parada de Bolsonaro no continente asiático foi a China, principal parceiro comercial do Brasil. Após ter feito críticas à China durante a campanha eleitoral do ano passado, quando chegou a dizer que os chineses estavam “comprando o Brasil”, Bolsonaro mudou de tom e adotou uma postura conciliadora.

​Alexandre Uehara atribui a visita a uma mudança de postura do presidente brasileiro Jair Bolsonaro em relação a China.

“Creio que houve uma sensibilidade da importância da China para a economia mundial e, em particular para economia brasileira, já que é um dos principais parceiros econômicos, em termos de importação e exportação é o principal, e isso fez com que houvesse uma sensibilidade maior em como se relacionar com a China”, disse.

Bolsonaro e o presidente chinês Xi Jinping assinaram 11 atos de cooperação em diferentes áreas como energia, educação, ciência e agronegócio.

Porém apenas dois desses documentos vão resultar em aumento imediato das exportações: os protocolos sanitários para os embarques de farelo de algodão e carne termo processada (carne cozida congelada, enlatada e beef jerky, que é semelhante ao charque).

Segundo Uehara, o número baixo de acordos assinados que terão impacto imediato é algo normal para dois países que estavam afastados.

“É difícil você ter reuniões com grandes resultados, ao menos que já tenha sido alinhavado previamente, como nós tivemos um momento um pouco tenso nas relações entre Brasil e China eu creio que existe um espaço para recuperar. Não vejo que seja algo decepcionante, se retomou um canal de comunicação”, atribui.

O setor de carnes é um dos que tem mais ganhos na exportação para a China.

Bolsonaro também anunciou que vai isentar chineses de visto para a entrada no Brasil. O objetivo, segundo o presidente Jair Bolsonaro, é estimular viagens de turismo ou negócios. A China não manifestou a intenção de dar a contrapartida para brasileiros que forem ao país.

No Oriente Médio, Bolsonaro firma acordos de defesa e de investimentos

A primeira parada do presidente Jair Bolsonaro em sua visita ao Oriente Médio foi nos Emirados Árabes. Cooperações na área militar foi um dos principais focos de sua visita ao país de pouco mais de 9 milhões de pessoas.

Bolsonaro assinou um acordo sobre informações classificadas que estabelece “equivalência dos níveis de classificação, medidas de proteção, regras de acesso e transmissão de informações classificadas, bem como providências relacionadas ao vazamento de dados sigilosos”.

Além da cooperação, foi assinado um memorando de cooperação estratégica para expansão da capacidade produtiva do setor de defesa, parceria para desenvolvimento, produção e comercialização de produtos de Defesa.

Outro acordo assinado nos Emirados Árabes se refere à assistência mútua em matéria aduaneira, que não tem efeitos imediato, mas pode reduzir burocracias fiscais.

Estão previstas medidas para “garantir segurança e fluidez na cadeia logística do comércio entre Brasil e os Emirados Árabes Unidos”. Os dois acordos foram assinados pelos governos dos dois países no Qasr al Watan, palácio presidencial em Abu Dhabi, capital do país.

© REUTERS / Satish KumarO presidente Jair Bolsonaro participa de evento durante sua viagem aos Emirados Arábes Unidos.
Após 12 dias de viagem, o que Bolsonaro traz na bagagem de volta ao Brasil? - Sputnik Brasil
O presidente Jair Bolsonaro participa de evento durante sua viagem aos Emirados Arábes Unidos.

Já no Catar, Bolsonaro e o emir do Catar, Xeique Tamin Bin Hamad Al Thani, assinaram um acordo para a isenção de visto de entrada nos países de turistas, pessoas em trânsito ou em viagens de negócios.

Os dois países também pretendem concluir um acordo para exploração de serviços aéreos entre seus territórios.

Já na área de defesa, os dois países assinaram acordo para pesquisa e desenvolvimento, apoio logístico, medicina militar e fornecimento de produtos e serviços de defesa, além de intensificar a troca de conhecimentos e experiências sobre organização e operações das Forças Armadas.

Por último, na Arábia Saudita, o presidente Jair Bolsonaro assinou talvez o seu principal resultado concreto de toda a viagem. Ao que tudo indica, o fundo soberano da Arábia Saudita vai investir US$ 10 bilhões no Brasil, o equivalente a R$ 43 bilhões. Ainda não foi definido nem o prazo, nem as obras que devem receber o dinheiro.

Os dois países vão criar um conselho para definir quais áreas e a velocidade da alocação dos recursos.

Segundo Rubens Hannun, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, que acompanhou a comitiva do presidente, a viagem trouxe ainda mais aproximação entre o Brasil e os três países do Oriente Médio.

"Os árabes valorizam demais o contato olho no olho, essa vinda do presidente brasileiro mostra que o Brasil está respeitando, está dando a importância que os países árabes têm", disse à Sputnik Brasil.

Rubens Hannun acredita que os resultados econômicos dos acordos firmados com os países no Oriente Médio serão vistos no médio e longo prazo.

"Os resultados que a gente está esperando para esses países é de alguns de curto prazo, mas a maioria de médio e longo prazo. Primeiro é esse estabelecimento de confiança, essa confiança que os árabes têm no Brasil se reforça, com isso a gente consegue lutar melhor contra os concorrentes", afirmou o presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.

Bolsonaro foi à Ásia e ao Oriente Médio tentar botar panos quentes em algumas declarações em relação a alguns desses países. Além das críticas à China, como já foi mencionado acima, Bolsonaro também chegou a não ser muito bem recebido quando cogitou, após assumir o mandato, mudar a embaixada brasileira de Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

O anúncio foi muito mal recebido pela comunidade árabe e chegou a se comentar sobre os possíveis prejuízos que setores da economia brasileira poderiam sofrer com essa mudança.

A viagem mostrou que Bolsonaro está disposto a desfazer esse mal-estar e que quer apaziguar as relações com esses cinco países. Resta saber se ele conseguirá ter a habilidade política de manter essa postura ou se vai escorregar em declarações infelizes.

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