Na entrevista de Luiz Inácio Lula da Silva publicada pelo jornal britânico The Guardian nesta sexta-feira (22), o ex-presidente disse que seu partido está se preparando para voltar ao poder. Ao ser questionado sobre uma possível candidatura, Lula contemporizou:
"Em 2022 eu estarei com 77 anos. A Igreja Católica, com seus 2.000 anos de experiência, aposenta seus bispos aos 75."
O ex-presidente disse que sua principal missão no atual contexto é "lutar pela democracia", e não poupou críticas ao governo Bolsonaro:
"Temos um presidente que não governa, que senta e fica discutindo fake news 24 horas por dia", comentou.
O ex-presidente, que deixou a superintendência da Polícia Federal no dia 9 de novembro, após decisão do Supremo Tribunal Federal que considerou inconstitucional a prisão em segunda instância, expressou ceticismo em relação ao futuro da administração Bolsonaro:
"O Bolsonaro já deixou bem claro o que ele quer pro Brasil: ele quer destruir todas as conquistas democráticas e sociais das últimas décadas [...] vamos torcer para que ele faça algo de bom para o país... mas eu duvido", lamentou.
Política externa
O ex-presidente criticou a condução da política externa, que está sob comando do chanceler Ernesto Araújo. Desde a posse de Bolsonaro, o Itamaraty modificou a posição do Brasil em áreas nas quais o país era considerado pioneiro, como o meio ambiente.
"A submissão ao Trump e aos EUA... é realmente uma vergonha [...] a imagem do país está negativa agora", disse.
Lula demonstrou otimismo em relação à eleição do peronista Alberto Fernández na Argentina e à administração López Obrador no México, mas manifestou frustração com o recente golpe de Estado na Bolívia:
"O meu amigo Evo cometeu um erro ao tentar um quarto mandato, mas o que fizeram com ele foi um crime. Foi um golpe – e isso é terrível para a América Latina."
Amor e ódio
Após passar 580 dias na prisão, Lula alega ter "deixado a prisão com um coração maior". Apesar do otimismo, o presidente investiu contra a figura do ex-juiz e atual ministro da Justiça Sérgio Moro.
"Eu espero que um dia o Moro seja julgado pelas mentiras que contou", resumiu.
O líder do Partido dos Trabalhadores lamentou que o Brasil tenha "se tornado um país no qual a disseminação do ódio tenha se tornado parte da vida diária das pessoas". Apelando para metáforas futebolísticas, pediu respeito às diferenças.
Processo eleitoral
O ex-presidente se mostrou confiante na capacidade do Partido dos Trabalhadores de reaver a parcela de votos que perdeu nas eleições presidenciais de 2018. Para ele, Jair Bolsonaro só foi eleito porque "Lula não era candidato".
De acordo com o jornal, o PT é o partido mais popular do Brasil com margem considerável de vantagem. Por outro lado, é o segundo partido com maior rejeição, atrás somente do PSL, partido do qual Jair Bolsonaro se desfiliou nesta terça-feira (19).
Sobre a rejeição de 40% do PT, Lula riu: "Claro, mas as pessoas falam mais sobre o Pelé do que sobre outros jogadores."